O período de adaptação

“E muitos pensam, que é brincadeira, quando falamos, o que passamos.”

Quando se fala em período de adaptação de uma escola militar, pode-se imaginar e supor diversas coisas ao ouvir histórias de terceiros que já passaram por isso, mas somente vivendo estes momentos por si mesmos é que temos a noção dos grandes desafios que enfrentamos, até mesmo das forças que tiramos do corpo e nunca tivemos noção de que elas existiam.

Nas próximas linhas, contarei um pouco do que passei no período de adaptação do PSEFOMM 2018. A superação da vontade de desistir, de como passei a amar a Escola de Formação de Oficias da Marinha Mercante, e como a mesma mudou a minha vida para melhor e ainda há de mudar. Sou muito grato a todos os meus adaptadores, pelo caminho que eles me mostraram para ser um ótimo aluno e por todos os ensinamentos acerca da Marinha Mercante.

O primeiro dia

É claro que o primeiro dia é um dos que mais se torna destaque durante esse período, o motivo é simples: Eu nunca tive nenhum contato com o militarismo, nunca tinha engraxado um sapato antes, ou feito uma bainha de uma calça, não sabia nem prestar continência direito, e era praticamente dependente da minha mãe para tudo o que eu deveria fazer, era como dizia uma charlie mike (Canção Militar)… “A vidinha lá em casa, era só comer, beber e dormir”. Mal sabia eu que a partir daquele dia tudo isso mudaria.

Após a verificação de documentos, tive o primeiro contato com alguns ensinamentos do militarismo, como as posições de sentido, descansar e começar a perder a vergonha de mim mesmo, dando início a tão famosa vibração, pois ela é o símbolo do militar, a qual dá a este forças para superar seus desafios e sustentar o corpo quando sente que não poderá continuar, fazendo-o vencer as barreiras sobre si mesmo.

Como eu não estava acostumado a passar por tudo isso, a vontade de desistir foi enorme neste dia, eu via no rosto dos outros candidatos a mesma coisa, pois a maioria deles também passava pela mesma situação. Eu vi alguns indo para a enfermaria, pelo fato de não terem o corpo bem preparado fisicamente e acabarem passando mal, mas isso só me fazia ter mais medo do que estava por vir, afinal, era apenas o primeiro dia, mas algo dentro de mim não me deixava tomar esta atitude, o que era isso? Era o sacrifício que meus pais fizeram para que eu estivesse aqui, e eu não poderia jogar tudo isso fora. Assim, eu persisti e consegui completar o primeiro dia.

Turma Echo

Durante o período de adaptação, tivemos 6 turmas: Alfa, Bravo, Charlie, Delta, Echo e Foxtrot. Minha turma de adaptação foi a Echo, e não foi somente uma turma, mas sim uma família, pois com eles eu aprendi o que realmente é a união, o que é ajudar um ao outro nos momentos mais difíceis. Apesar dos altos e baixos, nunca deixamos nenhum de nós para trás, pois se um se atrasasse para a formatura da turma, todos se atrasariam juntos. Nosso lema era “irmãos, unidos, forjados pela dor.” Sim, pela dor, pois é através desta que aprendemos a dar valor àquilo que queríamos conquistar, e também a valorizar à disciplina, que, além da união, também foram indispensáveis.

O torneio dos novos foi um dos momentos em que mais ficamos unidos, pois além de competirmos juntos, também vibramos juntos. Gritar o nosso brado em união e com toda aquela emoção foi uma sensação única, como se todos nós estivéssemos ligados em um só, e sempre dispostos a estarmos uns com os outros em todo tipo de situação.

Adaptadores da turma Echo

É claro que eu não poderia esquecer dos meus adaptadores, e na minha humilde opinião, os melhores.
Adap.Al. Gabriella Furtado: A encarregada da turma da Echo, nos ensinou muitas coisas acerca da união e da disciplina, nossa grande mãe.
Adap.Al. Ricardo Jesus: Também presidente do Jornal Pelicano. Às vezes se mostrava um pouco chato, mas é uma grande pessoa.
Adap.Al. Yago Araújo: Um dos adaptadores mais severos, no início da adaptação era muito duro com a gente, mas no final da mesma se mostrou uma pessoa muito legal.
Adap.Al. Breno Delvaux: Um adaptador com bastante seriedade, nos ensinou muitas coisas acerca da EFOMM, como o cerimonial da bandeira por exemplo.
Adap.Al. Célio: Também foi severo no início, mas é uma ótima pessoa, nos deu instruções práticas do remo.
Adap.Al. Ingrid Costa: Excelente pessoa, nos deu instruções sobre remo e foi muito gentil conosco no final da adaptação.
Aux. Haag: Sempre vibrava com a turma Echo, mostrou um excelente desempenho e seriedade para conosco durante todo o período de adaptação.
Aux. Hugo: Ótimo auxiliar, nos ajudou na instrução do remo e mostrou um bom desempenho.

Momentos que mais se destacaram

O Tempo foi passando, e tivemos muitos momentos que se destacaram para nós, como a visita aos navios mercante e de guerra por exemplo. O primeiro culto do Grêmio Evangélico (GEVAN) significou muito não só para mim, mas para todos que estavam presentes naquele momento, pois após um árduo dia, precisávamos muito de um momento com Deus, e a cada louvor entoado todos choravam muito, não de tristeza, mas de alegria por saber que estávamos sendo amparados em todas as dificuldades pelas quais passávamos.

A partir do momento em que começamos a treinar ordem unida e a realizar o Treinamento Físico Militar (TFM) como turma Uno Oito, foi em que comecei amar a EFOMM de verdade, pois ali eu via o nascimento de uma grande união além da turma Echo, uma vibração que eu nunca tinha imaginado que poderia acontecer, foi ali que eu senti o verdadeiro amor pela Escola de Marinha Mercante, e minha vontade de ficar só aumentava mais, eu já não sabia mais o que era a palavra desistir.

É claro que a minha altura não poderia passar em branco na adaptação, afinal, eu sou o mais alto da turma Uno Oito, e consequentemente, tive alguns destaques durante o período devido a esse fato, além disso acabei sendo o homem-base de todo o grupamento, quando marchávamos, o que aumentava a pressão sobre mim pois o homem-base é quem dita a voga da marcha, mas isso não me motivou menos, muito pelo contrário, eu me esforçava ao máximo para que tudo saísse bem.

Considerações Finais

A todos os que ainda hão de passar por essa etapa, dediquem-se ao máximo, e sempre vibrem pela EFOMM assim como eu vibro, pois ela será o seu novo lar durante 3 anos.

Apesar dos bons e maus momentos, a turma Uno Oito manteve a união, desde o primeiro dia até a entrega da platina, nos esforçamos ao máximo. O período de adaptação foi um tempo recheado de emoções, e será inesquecível para toda a Uno Oito, assim como também foi inesquecível para os nossos adaptadores. Cada obstáculo superado, cada dificuldade vencida, era uma conquista para mim, pois significava que eu estava aprendendo cada vez mais sobre a minha amada escola.

Não foi fácil, mas consegui passar por esse período. A todos os que ainda hão de passar por essa etapa, dediquem-se ao máximo, e sempre vibrem pela EFOMM assim como eu vibro, pois ela será o seu novo lar durante 3 anos.

Aqui encerro minhas palavras sobre o período de adaptação, confesso que sentirei falta de muitos momentos desse período, assim como sentirei falta da EFOMM no dia em que eu me formar. Esta escola estará sempre em meu coração, simplesmente a melhor Escola de Marinha Mercante do mundo!

Texto: Aluno Matheus Marinho

Acompanhe todo material produzido na página De candidato a fera.

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Praticante Oficial de Náutica. Vice-Presidente do Jornal Pelicano e Presidente do Grêmio de Relações Internacionais da Marinha Mercante durante o ano de 2018.