Dando sequência às palestras motivacionais, a terça-feira, 14 de outubro, foi reservada para profissão de Náutica. Buscando esclarecer e sanar as dúvidas dos alunos, foram convidados quatro profissionais formados no Centro de Instrução Braz de Aguiar (CIABA), atuantes no Setor Náutico e, atualmente, alunos do Curso de Aperfeiçoamento para Oficial de Náutica (APNT).

Imediato Felipe Barreto

Inaugurando o segundo dia de palestras motivacionais, o Imediato da empresa Schahin Petróle, Felipe Barreto, de 33 anos iniciou sua apresentação com a indagação: “Por que EFOMM?”; e continuou explicando que a passagem pela vida militar e a rotina à bordo da EFOMM são divisores de água para os alunos, porque, após concluído o curso, a única formação militar encontrada à bordo será a dos Oficias, e isso faz com que as pessoas os vejam como disciplinados, de respeito e líderes. A Escola prepara o aluno para: o convívio com as pessoas, lidar com diversos tipos de situações, ter disciplina, postura, aprender a seguir regras, além de criar laços interpessoais e sensações semelhantes às de bordo. Um bom exemplo é o isolamento que é vivido (na forma de internato) pelos alunos, que será o mesmo durante a carreira, onde ficarão longe da família e principais convívios sociais para se dedicar aos serviços – “Um Oficial deverá estar sempre em prontidão”, afirmou. E aconselhou que a prática de esportes diária seja mantida depois de formados, pois é grande a escala de sedentarismo entre os Oficiais e as empresas exigem um nível aceitável de Índice de Massa Corporal (IMC) tanto para contratação, quanto para a permanência no cargo.

O Imediato Felipe Barreto citou a Profissão de Oficial de Náutica como um eterno desafio, uma vez que o profissional nunca sabe o que pode acontecer, ainda que tenha grande conhecimento da operação e do pessoal. Por isso, é tão importante planejar e supervisionar as tarefas, anteceder os fatos, estar sempre alerta, corrigir as falhas (para fazer correção é preciso saber fazer os serviços), observar e reportar os acontecimentos, ter poder de decisão – “É melhor tomar uma decisão errada a não tomar nenhuma”, saber comandar, liderar e ser chefe (quando for preciso) e, principalmente, lidar com as pessoas (corrigindo, apontando o caminho e investindo nelas).  Quanto à vida à bordo, hoje em dia, encontra-se internet, telefone, televisão contratual, equipamentos integrados de navegação, posicionamento e segurança. Por fim, incentivou o primeiro ano a ter equilíbrio, a se planejar e motivou os alunos falando sobre a boa qualidade de vida que a carreira proporciona, a estabilidade financeira e o tempo que depois de desembarcado o profissional terá, totalmente disponível, para si e para a família.

Imediato Junior

Imediato apresentando a operação em AHTS (Foto: Al. Sebastian / Jornal Pelicano)
Imediato Junior apresentando a operação em AHTS (Foto: Al. Sebastian / Jornal Pelicano)

Em seguida, o Imediato da empresa Bram Offshore, José Ferreira Leal Junior, 27 anos, que focou sua experiência de bordo na parte técnica, como manobras no Anchor Handling Tug Supply (AHTS), que tem como principal finalidade o manuseio de ferros, mas que também pode ser um rebocador utilizado para suprimento das plataformas. Durante a apresentação, o Imediato Junior explicou diversos tipos de operações, suas técnicas e finalidades utilizando-se de diversas fotografias da embarcação em manobra, executadas por ele e pelo comandante.  Na presença de um profissional com grande experiência em rebocadores, os alunos da EFOMM tiveram a oportunidades de se familiarizarem com operações de aproximação de plataforma, manobra de transferência de diesel, manobra de Off Load, de desencalhe de navios (exemplificou mostrando a operação feita em Sepetiba, onde um navio encalhou numa ilha), troca de hauser da Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Transferência (FPSO), realizada por mergulhadores; além de adquirirem conhecimentos técnicos como de sistemas de guincho anchor handling, diferença entre rebocadores AHTS (que são polivalentes) e Supply (que só fazem suprimento) e Posicionamento Dinâmico (DP).  Foi citada também a importância da atenção durante as operações e do uso de equipamentos de segurança, para evitar acidentes com a tripulação, bem como degradação da embarcação, da carga e do meio ambiente.

1ON Eduardo Caminha

O terceiro palestrante foi o 1º Oficial de Náutica da empresa Seadrill, Eduardo Caminha, 31 anos, que iniciou a apresentação descrevendo as funções que os alunos da EFOMM irão ocupar após formados (Praticante, 2º Oficial, 1º Oficial, Imediato e Comandante)  e mencionando as dificuldades encontradas à bordo, como: grandes responsabilidades, preocupações e distância da família, que acabam fazendo com que os profissionais não sigam a carreira até o final.

“A carreira de vocês começou aqui, por isso é importante que o aluno tenha um bom comportamento desde a escola, para que as referências, ao se formarem, sejam boas”.

Apontou a importância do Oficial de Náutica como operador e sugeriu da praticagem ser feita em Navio, pois lá, de certo modo, poderá ser dada continuidade ao aprendizado de sala de aula, maturando o conhecimento. “Ser Oficial também envolve acompanhar a construção de navios, procurem aprender sobre isso”. Ao passar o vídeo de um navio moderno de um estaleiro Norueguês (referência na construção dos navios mais desenvolvidos do mundo) e explicar as instalações e tecnologias internas, os alunos puderam observar a modernidade no mundo do Transporte da Marinha Mercante. Focando no lado pessoal e psicológico dos estudantes, Eduardo Caminha fez indagações quanto aos objetivos, às missões de carreira, foco de chegada e nível de conhecimento que os alunos pretendem possuir, incentivando o estudo durante toda a formação. “Não importa se você é o “zero um” ou o “zero último”, tracem uma meta e corram atrás dela agora!”. Atualmente em escala de 14 dias em terra e 14 dias embarcado (14 por 14), mas já tendo trabalhado em escalas de 35 por 35, 28 por 28, 4 meses por 1 mês e com primeiro embarque de 7 meses seguidos, ou seja, versado na profissão, o palestrante diferenciou a vida das pessoas que vivem regularmente em terra e os marítimos, mostrando vantagens tanto na vida social, quanto financeira e a liberdade que quem trabalha à bordo possui, frisando também a importância de se ter planejamento de carreira, financeiro e de vida.

Como oficial de Náutica, o aluno formado pode estudar para concurso, embarcar, seguir carreira em navio, pode trabalhar em navios modernos, antigos e plataformas. “Cheguem ao fim da Escola preparados e busquem aprender mais, a internet e a biblioteca estão aí para isso. Pesquisem, procurem! Porque a situação em que se encontra o mercado de trabalho está precária por conta da crise”.  Para encerrar, explanou a respeito da  importância de falar inglês fluentemente, ser determinado, se preparar para as dificuldades de embarque e se adaptar a todas as situações.

Alunos respondem à pergunta: "Quem quer Náutica?" (Foto: Al. Sebastian / Jornal Pelicano)
Alunos respondem à pergunta: “Quem quer Náutica?” (Foto: Al. Sebastian / Jornal Pelicano)

Imediato Junniel

Antes do encerramento, subiu ao palco o Imediato da Transpetro, Junniel, 29 anos. Formado há 9 anos, o Imediato Junniel é empregado da empresa desde a praticagem e já viajou para diversos países, foi três vezes à China para docagem (“processo fundamental para aumentar a vida útil da embarcação e fazer reparos nas falhas”) do navio, tem 7 anos de experiência no navio onde praticou (Piraí – Navio Panamax, com 223m, que transporta óleo cru, diesel ou gasolina) e ano passado, foi convidado a embarcar num navio novo da empresa (Henrique Dias, Suezmax, com 274m, que carrega 160 mil m³ de petróleo em 24 horas e que foi lançado ao mar há 8 meses), sendo integrante do PROMEF. Destacou a importância de trabalhar com a embarcação no estaleiro para aprender onde começa o navio, como tudo é feito, como é a frente de carga e a operação, como são as linhas e as redes. De modo informal, relatou a experiência de ser imediato aos 26 anos, a responsabilidade e a dificuldade que é lidar com pessoas, motivar a tripulação, reconhecer o momento de ser mais rígido (ao ponto de desembarcar funcionários) e o de chamar apenas atenção, conversar e elogiar. Durante as viagens de longo curso pode aprender muito sobre navegação, canais estreitos, travessias e vivenciou situações de emergência, como pirataria. “A praticagem define a qualidade de Oficial que o indivíduo será, por isso, tanto a praticagem, quanto todo o percurso da carreira até se tornar um comandante, começam na EFOMM”. Sendo o único que trabalha em navio, o imediato falou de operações à bordo do Henrique Dias, navio aliviador que vai às plataformas carregar o petróleo (óleo cru) e levar para as refinarias. As operações com mangote para a transferência do petróleo são muito perigosas, o oficial de Náutica deve estar sempre atento e buscando conhecer o máximo da manobra, porque todas as operações são diferentes; sempre há imprevistos e o Oficial deve se precaver e estar apto a resolver a problemática (caso apareça), uma vez que qualquer erro gera poluição e as consequências podem ser graves. A vantagem de se trabalhar em navio são as condições de habitação que eles oferecem, por serem maiores, dão melhor infraestrutura e lazer à tripulação, como: academia, restaurante, salão, refeitórios, passadiço grande e tecnológico e mais espaço no dia a dia.

Espaço para perguntas

Questionado a respeito da rotina à bordo de plataformas, Eduardo Caminha esclareceu algumas dúvidas da carreira fora de navio: “Os regimes de embarque em plataforma, no Brasil, são 14 por 14 e 28 por 28, algumas empresas chegaram a praticar 21 por 21, mas depois de um tempo pararam, outras ainda abrem mão; mas, via de regra, são 14 por 14.

O oficial de Náutica, na plataforma de perfuração irá trabalhar (basicamente) no DP; a carreira começa como Assistente de Operador de Sistema Dinâmico (DPO), vai a DPO, DPO Sênior, Imediato e Comandante. A grande mudança em relação a navio e barco é a rotina de trabalho que é composta por 12 horas de trabalho por 12 horas de descanso. Como DPO, a regra é que tenham dois profissionais por horário no passadiço, trabalhando no DP (revezam entre si a mesa de controle). Algumas empresas têm o costume de colocar no escopo de trabalho do DPO funções em paralelo como operações no convés e de carga, mas isto tem diminuído muito ultimamente. Já em cargos administrativos como Imediato e Comandante, são 12 horas contínuas exercendo a função, e as demais descansando.

O aluno da EFOMM já sai da Escola com a documentação mínima exigida para embarcar como Oficial, mas, para plataforma, para operar como DPO, é necessário ter o curso de DP Básico, depois DP Avançado e certificado de Full DP. Depois dos cursos básicos têm alguns cursos mais específicos como de DGPS (sistema de posicionamento da plataforma), curso de acústico (ajuda no sistema de posicionamento) e alguns cursos específicos que o profissional fará quando já estiver na empresa, que são voltados, especificamente, para os equipamentos da embarcação, ou seja, diferente do DP, não adianta muito fazer antes; é recomendável fazer com experiência em DP.”

Ao final de todas apresentações, com as perguntas tendo sido respondidas, os quatro palestrantes receberam das mãos do professor Adilson Coelho o certificado de palestrante.

Confira a galeria de fotos do evento:

ST027-20151014JP
(Foto: Al. Sebastian / Jornal Pelicano)