O mês de julho possui significado especial na Marinha do Brasil pois, em 7 de julho de 1980, foi promulgada a Lei nº 6.807, que possibilitou o ingresso de mulheres na Força.
Nesse mesmo mês, o CIAGA completa 20 anos que formou sua 1ª turma da EFOMM com mulheres, a Turma CLC RUY DE LOURDES DA CUNHA E MENEZES. O Jornal Pelicano realizou uma entrevista com a Professora do Magistério Superior Gabriela de Lima Bragança para contar-nos um pouco sobre suas experiências como aluna-pioneira, oficial de náutica e docente do Centro de Instrução há 18 anos. Essa reportagem faz parte do Projeto CIAGA 50 anos, que busca repercutir temas importantes que marcaram a história da Instituição.

Foto da Turma. Acervo Pessoal.

1- Como a senhora e suas campanhas foram recebidas pelo Corpo de Alunos que até então era composto apenas por homens?

A grande maioria nos recebeu bem. Eu não tive problemas para me adaptar, pois tenho facilidade para lidar com todos os gêneros. Nós éramos seis mulheres na turma do primeiro ano e tivemos um bom entrosamento. No CIAGA trabalhavam poucas mulheres que lidavam diretamente com as alunas da EFOMM como professoras, enfermeiras, pedagogas etc. Hoje é possível ver um número maior de mulheres em todos os segmentos no CIAGA. Posso dizer que, no geral, nossa aceitação foi boa.

2- Quais mudanças a senhora percebeu que a escola teve que fazer para receber as mulheres?

Foi mais a questão dos camarotes e banheiros femininos porque a Marinha do Brasil já possuía mulheres em seus quadros e a EFOMM de Belém no CIABA já recebia mulheres, o que facilitou a adaptação da chegada de mulheres à EFOMM do Rio de Janeiro no CIAGA.

3- O que significa para a senhora pertencer à 1ª Turma com Mulheres da EFOMM no CIAGA?

“Foi desafiador!”

Foi desafiador porque ao mesmo tempo que consegui me adaptar bem às rotinas da EFOMM, tinha a responsabilidade e a visibilidade de pertencer à primeira turma com mulheres do CIAGA. Apesar de muito jovem, eu tinha consciência de que seria referência para as mulheres que viriam nos anos seguintes. Ressalto que tive uma boa relação de convivência com todos a bordo tanto no CIAGA quanto nas embarcações pelas quais passei para cumprir os períodos de estágio. Quando vejo as mulheres oriundas da EFOMM, tanto do Rio quanto de Belém, e são muitas, fico feliz com as conquistas de cada uma delas. Embora a primeira turma da EFOMM com mulheres tenha iniciado na EFOMM em Belém um ano antes, as pioneiras da EFOMM do Rio de Janeiro abriram as portas para mulheres de outras regiões do país.

“Então, assim, é desafiador e dá orgulho de saber que abrimos as portas e que várias mulheres estão podendo trilhar esses caminhos.”

27 de julho de 2001 – formatura da turma CLC Ruy de Lourdes da Cunha e Menezes com destaque para o 01 da turma e 01 de Máquinas Moares (à esquerda) e 01 de Náutica Ribeiro (à direita).Acervo Pessoal.

4- Como foi a experiência da senhora na praticagem?

Quando eu era aluna da EFOMM, existia o PIM (Programa de Instrução no Mar) e o PREST (praticagem). O PIM era realizado no primeiro semestre do 3º ano e o PREST após a formatura que acontecia em julho. Minhas experiências foram boas com um bom aproveitamento e grandes aprendizados. Naquela época já existiam plataformas nas quais havia mulheres embarcadas, mas navios com tripulantes mulheres, no Brasil, ainda eram raros. Mesmo assim posso afirmar que foi bem tranquilo, que fui bem recebida. Não houve discriminação na execução de meu trabalho. Embarquei por um período curto por não me adaptar à vida embarcada, mas não foi pelo fato de eu ser mulher, visto que muitos homens também não conseguem se adaptar à vida no mar.

Ressalto que há 18 anos venho contribuindo para a formação de mulheres e homens da Marinha Mercante através da atividade docente no CIAGA e me orgulho muito por isso. Também considero importante salientar que na Marinha Mercante não existe somente o trabalho embarcado. Há vários segmentos e é possível ver as mulheres atuando em várias áreas tanto embarcadas quanto em terra. Já existem mulheres oriundas das EFOMM comandando embarcações e chefiando as praças de máquinas. Também temos mulheres práticas que atuam no serviço de praticagem nos portos. Em terra, há mulheres em cargos de gerência e supervisão em empresas do setor marítimo tanto no Brasil quanto fora do país. Também temos a participação na área da educação como professoras e instrutoras tanto no CIAGA e no CIABA quanto em empresas privadas que atuam no setor de treinamento de pessoal da Marinha Mercante.

O Jornal Pelicano agradece a contribuição da Professora Gabriela de Lima Bragança e parabeniza todos os profissionais da Marinha Mercante Brasileira, em especial os pertencentes à turma CLC RUY DE LOURDES DA CUNHA E MENEZES pelos 20 anos de formatura e todas as militares da Marinha do Brasil pelo aniversário de 41 anos do Ingresso da Mulher na Marinha! 

Ficha Técnica: 

Coordenação do Projeto: Al. Perini

Entrevistas: Al. Julia Zandomingo, Al. Sofia e Al. Paraizo

Texto: Al. Sofia e Al. Paraizo