O Jornal Pelicano está publicando uma série de relatos sobre a rotina de bordo de diversos praticantes por navios e empresas diferentes. Em seus primeiros textos enviados para o Diário do Pratica, a PON Isabela Bessa nos relatou ter vivido experiências de docagem, de inspeção e de troca de equipeno AHTS Asserter, da Maersk. Agora, ela está embarcada no conteneiro Laura, da mesma empresa, já a 2 meses.

Em seu 4° relato, ela nos conta sobre as operações portuárias vividas nesse navio; revela-nos conflitos culturais que a impediram, inclusive, de desempenhar as suas funções; comenta a receptividade em relação aos brasileiros, no exterior e, ainda, sobre a utilidade dos conhecimentos adquiridos na Escola.

Sejam bem vindos a bordo!


“No meu último texto, eu ainda estava a bordo do Maersk Asserter, um AHTS operando com a Petrobras. Eu fiquei nele durante dois meses e depois tive uma semana em casa, antes de embarcar no Laura Maersk, o qual estou, agora.”


A semana que passei em casa foi a melhor coisa que poderia acontecer!

“A semana que passei em casa foi a melhor coisa que poderia acontecer! Eu estou realmente gostando da praticagem e todo mundo no Asserter era como uma segunda família! Mas é normal sentir saudades de casa e dos amigos. 
 
Estou a bordo do Laura Maersk há pouco mais de dois meses. É um conteneiro da Maersk Line. Nossa rota já mudou duas vezes. Inicialmente, o barco ia parar em alguns portos no Golfo de Áden (Emirados Árabes, Arábia Saudita e outros países africanos) [e seguiria] depois para a Tailândia e Malásia, passando pelo Estreito de Singapura. Agora, nossa rota ainda inclui alguns portos no Golfo de Áden, mas, depois, passamos pelo Mar Vermelho, Canal de Suez, paramos em portos na Turquia e no Líbano, passamos pelos Estreitos de Bósforos e de Dardanelos e paramos, na Rússia. É uma rota bem cansativa, porque os portos são próximos (aproximadamente um porto por dia ou um porto a cada dois dias).
 
Enquanto estamos navegando, a rotina a bordo é bem tranquila. Basicamente, ficamos de serviço de quarto no passadiço e fazemos as inspeções de rotina (equipamentos de combate a incêndio, salvatagem, GMDSS etc.). Tive a oportunidade de aprender muita coisa sobre navegação, pois aqui temos mais experiência e os oficiais têm mais tempo para explicar. Como a nossa rota mudou, também tive a oportunidade de aprender bastante sobre Passage Plan, começando uma nova rota do zero.
 

Tive problemas em algus portos, pois todos os funcionários eram muçulmanos e a maioria deles não fala com mulheres.

 
Quando estamos no porto, a rotina é mais corrida. Os oficiais tiram serviço de 6 horas. Temos que acompanhar toda a operação de carregamento e descarregamento. Conferir se os contêineres estão sendo carregados de acordo com os planos, se os estivadores estão peando a carga corretamente, se o navio está com o trim e a banda dentro dos limites… Tive problemas em alguns portos no início, pois todos os funcionários do porto eram muçulmanos e a maioria deles não fala com mulheres. Então, eu não podia, realmente, desempenhar a função do oficial.
 
Uma das coisas que mais me impressionou é que todo mundo conhece o Brasil! Infelizmente, a maioria acha que só temos futebol e samba, mas várias vezes as pessoas foram muito mais amigáveis comigo só porque eu disse que sou brasileira.
 

… percebi que a educação que recebemos na EFOMM não deixa a desejar… Só depende de quão a sério levemos os estudos.

 
Tendo contato com os estrangeiros, percebi que a educação que recebemos na EFOMM não deixa a desejar se compararmos com os outros países. Só depende de quão a sério levamos os estudos. Quando cheguei a bordo, percebi que a teoria da escola não era nem de longe suficiente para saber o que fazer e me desesperei um pouco, mas agora consigo ver que, conforme vamos fazendo as coisas, na prática, vamos lembrando o que aprendemos na escola (quem aprendeu alguma coisa na escola, é claro!). E, nesse barco, todos os oficiais e o comandante tiveram a maior paciência de me explicar tudo! Dei muita sorte nesse aspecto.
 
Acho que o maior aprendizado que estou tendo aqui é com a diferença cultural que encontramos. No Laura, já encontrei filipinos, dinamarqueses, indianos, holandeses e ingleses. Todos são diferentes entre si. Por isso aprendi muita coisa com cada um deles. Alguns deles ficam seis meses sem voltar para casa! Quando penso nisso sinto até vergonha de estar com saudades (risos) …”
 
PON Isabela Bessa
 
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Segundo Oficial de Náutica e Membro Honorário do Jornal Pelicano e Grêmio de Vela e Remo. Foi aluno da EFOMM entre 2013 e 2015, Adaptador-aluno, Atleta da Equipe de Natação, Monitor dos Grêmios de Náutica e Informática, Escritor e Vice-presidente do Jornal Pelicano.