Praticantes de diversos navios estão enviando relatos sobre suas experiências a bordo para uma série de matérias que o Jornal Pelicano está editando. O segundo maquinista a contribuir com o Diário do Pratica é o Praticante de Oficial de Máquinas Goes Neto, que, atualmente, está embarcado no AHTS Lancer, da Maersk, mas que, também, já praticou no Mercosul Manaus, um conteneiro da mesma empresa. Ele fala sobre as diferenças que percebeu entre as praças de máquinas dos dois tipos de navios, da experiência de docagem que pode viver, da importância dos conhecimentos adquiridos nos laboratórios e simuladores da EFOMM e, também, do inglês. Sejam bem-vindos a bordo!

 


“Sou o Praticante de Oficial de Máquinas Pedro Felix de Góes Neto e estou escrevendo para o Diário do Pratica para contar um pouco da minha experiência.”


 

POM Góes Neto posa para foto na Praça de Máquinas do MV Mercosul Manaus (Foto: POM Góes Neto)

Eu sou praticante da Maersk e, como é sabido, a empresa costuma dar oportunidade aos praticantes de passar por vários tipos de embarcação. Meu primeiro embarque durou 40 dias e foi realizado no navio conteineiro Mercosul Manaus, que faz escala nos principais portos entre Itajaí (SC) e Manaus (AM).

A tripulação de máquinas é composta por: Chefe, 1OM (Sub-chefe, equiparado ao imediato), dois 2OM (um mais jovem, dito oficial junior por estar nos primeiros embarques, e um mais experiente), eletricista (na ocasião, um oficial eletrotécnico estrangeiro), mecânico, marinheiro e moço de convés. São todos brasileiros ou estrangeiros residentes e naturalizados, com a exceção do eletricista.

 

Foi uma experiência muito interessante pelo fato de [o embarque] ter sido durante a docagem e reclassificação do navio.

 

Foi uma experiência muito interessante, primeiramente, pelo fato de os primeiros quatorze dias de embarque terem sido durante a docagem e reclassificação do navio, pois, na data, este estava completando cinco anos de serviço. Sendo assim, tive a oportunidade de ver os principais sistemas de bordo mais profundamente, acompanhar e aprender diversos procedimentos de manutenção incomuns e até ver, por dentro, muitos equipamentos, que nunca são desmontados durante a rotina normal.

MV Mercosul Manaus docando (Foto: POM Góes Neto)

Outro ponto muito importante foi ver como é feito o processo de inspeção e classificação. Era cansativo, perdíamos os intervalos das 1000 e 1500, fazíamos a maior parte das refeições de macacão e voltávamos logo em seguida para a máquina, nos primeiros dias. Porém foi um ótimo quebra-gelo para mim, que estava há meses parado em casa. Sou muito grato pela oportunidade, pois a grande maioria dos praticantes se forma sem experiência de docagem e, até mesmo, muitos oficiais passam anos trabalhando sem conhecer algo do tipo.

Terminada a docagem, começamos a navegação pela costa. A operação do navio passou a fazer parte da rotina, mas por se tratar de um navio moderno e bem mantido, com praça de máquinas desguarnecida, não precisávamos dar atenção constante ao funcionamento das máquinas. Em compensação, por ser uma embarcação muito grande, a rotina de manutenção era constante. Comecei acompanhando os oficiais e fazendo tarefas menores como desmontar, reformar e remontar válvulas. Ao final do embarque, já era capaz de fazer a colheita rotineira dos dados, partir do zero e colocar em funcionamento a caldeira auxiliar, fazer os checklists de partida e chegada, trocar os geradores e fazer, em geral, a maior parte das atribuições de um 2OM.

 

Apesar da máquina desguarnecida […], nenhum detalhe do funcionamento pode passar despercebido.

 

Atualmente estou embarcado no AHTS Maersk Lancer, um dos barcos com maior frequência operacional da empresa. Apesar de estar aqui há apenas 4 dias, já pude perceber inúmeras diferenças entre as embarcações. A praça de máquinas é menor, porém com um número maior de equipamentos e um nível muito superior de automação. Isso acontece por se tratar de um navio multi-funcional, feito para operar com menos tripulantes. Como a função principal do navio (manejo de âncoras e reboque) é uma atividade de altíssimo risco, a preocupação com segurança, no navio, é muito mais elevada. Apesar de a máquina ser desguarnecida, devemos fazer 2 rondas e 2 colheitas de dados, por dia. Nenhum detalhe do funcionamento pode passar despercebido.

 

É importante ressaltar o inglês, mesmo em tripulações brasileiras…

 

 

Por se tratar de tripulação mista, com Comandante, Imediato, Chefe e Sub-chefe dinamarqueses, as exigências no serviço são maiores, surgindo barreiras com o idioma. Apesar disto, o entrosamento da tripulação em geral é bom e a rotina segue sem problemas. Porém, é importante ressaltar o inglês, mesmo em tripulações brasileiras, pois os manuais e instruções dos fabricantes são todos em inglês.

 

Os sistemas, no offshore, são simples de operar… Porém é necessário muito mais atenção…

 

Na parte de máquinas, o enfoque é maior sobre a operação e as manutenções são menos frequentes. Os sistemas, no offshore, são relativamente simples de operar e diferem pouca coisa. Porém é necessário muito mais atenção, pois qualquer erro pode trazer consequências muito sérias. Isso se reflete, também, nos tripulantes, que, comparados aos do navio anterior, são mais preocupados com o trabalho.

 

Os laboratórios foram essenciais e fizeram uma enorme diferença ao chegar a bordo.

 

Quanto á formação da Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM), os laboratórios foram essenciais e fizeram uma enorme diferença ao chegar a bordo. O simulador, que vimos no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA) se revelou excelente, pois retrata boa parte dos sistemas de bordo, com muita precisão. Principalmente, quando se trata de navios de carga, o simulador é quase uma cópia perfeita.

Espero ter colaborado para o entendimento do cotidiano de um praticante de máquinas e, com o decorrer da praticagem, compartilharei mais com vocês.”

POM Góes Neto

 

*Colaborou Al. Daílson (3° Ano – Náutica)