Nanotecnologia Contra Processos Corrosivos em Embarcações

Processos corrosivos são um grande problema no meio marítimo, por isso, foi necessário a colaboração de cientistas de vários países para o desenvolvimento dessa tecnologia de nível atômico.

As tintas que revestem os cascos de navios, compostas por anticorrosivos e anti‐incrustantes, são de extrema importância para as atividades mercantes tanto em navios e plataformas quanto em qualquer tipo de estrutura submersa de interesse econômico que possa estar sujeita a degradações.

Os cascos das embarcações estão constantemente sujeitos à corrosão, o que resulta na redução significativa da eficiência operacional. Em razão disso, tem‐se o aumento significativo do consumo de combustível e a consequente elevação dos custos. Portanto, é necessário que o casco do navio seja mantido “escorregadio” e limpo, resultando na ausência de corrosão e no menor arrasto na água, e, dessa forma, reduzindo os custos de manutenção para a então obtenção de um maior aproveitamento.

Ocorre que, ainda que sejam úteis e criadas a fim de evitar a corrosão e a aglomeração de micro‐organismos no casco das embarcações, as tintas anti‐incrustantes e anticorrosivas foram e continuam sendo tóxicas, podendo ocasionar a mortalidade de microalgas, microcrustáceos e peixes, prejudicando o meio ambiente como um todo. Esse é um problema que afeta várias áreas da economia, o que torna necessário o constante desenvolvimento de novas tecnologias que visem à redução dos impactos do homem na natureza.

Navio totalmente consumido pela corrosão. (Foto: Google Imagens)

Nanomar

Em face desse cenário, foi criado o Nanomar, um projeto que pretende desenvolver novas variedades de revestimentos do casco a partir de compostos orgânicos que possuem propriedades anti‐incrustantes  e anticorrosivas menos tóxicas ao meio ambiente.

Este projeto de grande importância para as atividades mercantes, o Nanomar, é financiado pelo FP7 – Seventh Framework Programme for Research – o programa de financiamento mais importante da União Europeia para iniciativas de pesquisa e desenvolvimento. Atualmente, o programa assumiu uma relevância tal que está sendo desenvolvido também por organizações russas e brasileiras.

A FP7 teve início de suas atividades em maio de 2012 e está sendo coordenado pela universidade de Aveiro, em Portugal, a qual é responsável pelo desenvolvimento das características das nanopartículas e execução de ensaios eletroquímicos, contando também com a participação de três outras instituições: Max Planck Society, responsável pela sintetização dos componentes nanoestruturados de biocidas; o Institute of Crystallography (IC RAS/Rússia), que cuida dos componentes contendo os princípios anticorrosivos; e o IPT, que é o responsável por introduzir as nanopartículas nas tintas, testando o desempenho em campo, no laboratório flutuante instalado no município de São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo.

A proteção contra corrosão no meio marítimo é feita atualmente com revestimentos que em muitos casos contêm cromatos em sua composição, elemento esse que, em razão de ser causador de grande prejuízo ambiental, foi proibido em diversos países. Todavia, apesar de serem tóxicos, os cromatos são capazes de alcançar desempenhos surpreendentes.

Como funciona?

O principal desafio é obter um revestimento que seja tão ou mais eficiente do que os cromatos, mas sem a presença de metais pesados e que não seja agressivo ao meio ambiente. O projeto tem como objetivo central poder combinar essas duas propriedades, ou seja, nanopartículas de características diferentes, em um mesmo revestimento. Dessa forma, seria desenvolvido o grande diferencial dessas partículas, que é a cura inteligente, o que se equipararia à cicatrização da pele humana. Ou seja, esse revestimento só é acionado quando houver o ataque de um agente externo em uma determinada região do casco, agindo no momento do dano.

Assim, uma parcela das partículas dessa tinta vai agir inibindo as corrosões que ocorrem na superfície do casco do navio enquanto a outra parcela vai ser feita a partir de compostos biocidas para a criação de uma resistência à proliferação de micro‐organismos como cracas, crustáceos que se fixam nas estruturas submersas e que também contribuem com o processo de corrosão. Esses dois poderes irão conferir à estrutura do navio uma proteção mais abrangente contra os dois agentes externos, aumentando a vida útil do navio, e reduzindo cada vez mais a eventual necessidade de que o navio venha a sofrer reparos.

Infestação de cracas no fundo de embarcação. (Foto: Google Imagens)