Em meio à atual crise na Marinha Mercante, com perdas de contratos de navios na área de apoio marítimo e a crescente queda no preço do barril do petróleo, uma previsão otimista surge no horizonte.

Para entender melhor a história, é necessário citar antes o relatório feito pela ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) que trouxe um resultado um tanto quanto inesperado: a movimentação de mais de 1 bilhão de toneladas nos portos brasileiros, um aumento de 4% em relação ao ano anterior e um novo recorde em nossos registros. O crescimento nos TUPs (Terminais de Uso Privado), então, chegou a 5,9%. Outro fator favoável, ainda, é o de que desde 2010 até o ano passado o crescimento total do setor alcançou os 20%, se mostrando bastante estável.

O recorde se mostra ainda mais significativo quando olhamos as estatísticas feitas pelo Diretor-Geral da Agência, Mário Povia, que apontam um participação brasileira em 3,8% das movimentações marítimas do mundo.

Mário Povia, Diretor-Geral da ANTAQ. (Foto: www.sindaport.com.br)
Mário Povia, Diretor-Geral da ANTAQ. (Foto: www.sindaport.com.br)

E qual é a tal “luz no fim do túnel”? As previsões de Povia para 2016 são de que o recorde seja batido novamente esse ano, levantado principalmente pela predição de chuvas e aumento da produtividade no setor agrícola. A movimentação de vegetais e granéis em geral evoluirá, disse o Diretor-Geral, que ainda complementou “A [movimentação] de celulose também está indo muito bem, a exemplo dos minérios. Os [produtos] siderúrgicos terão incremento, e o agronegócio, com entrada de fertilizantes, deverá ficar mais forte. Já os contêineres dependerão da economia, que a meu ver deverá ser menos ruim do que em 2015.”

E a crise? Curiosamente, a crise acabaria sendo uma aliada na visão de Mário Povia, pois o nível elevado do dólar favorece a exportação de comodities. Outra das vantagens da crise foi a reformulação da infraestrutura portuária que esta forçou, buscando atender melhor às demandas do mercado. A combinação de eficiência elevada e favorecimento cambial serviria, inclusive, para persuadir as empresas de logística do setor rodoviário a escoar suas cargas pelas hidrovias do país, fortalecendo a nossa cabotagem.

Não acredita nisso? A Folha apurou uma queda de até 85% no valor dos fretes de contêineres entre Brasil e Ásia, em relação a 2014, por exemplo. Com um preço de cerca de US$ 75, é possível trazer um contêiner de 40 pés (onde cambem 20 toneladas de produtos) de Hong Kong até o porto de Santos. Esse preço é menor do que o necessário para levar uma caixa cúbica de 60 cm, pesando três quilos, através do SEDEX, de São Paulo até Brasília.

Voltando ao assunto principal, até a queda de 7,7% no número de atracações ano passado não desanima o Diretor-Geral da ANTAQ. Para Mário Povia, o índice representa um aumento de produtividade: “É positivo, porque há mais navios maiores nos rios brasileiros. Esses rios apresentam agora maior profundidade [após a conclusão de obras de dragagem]. Com isso há um melhor aproveitamento nas atracações. É importante reconhecer que esses ganhos são oriundos dos investimentos em infraestrutura”

Sendo assim, 2016, apesar de ter começado como um ano de provável escuridão, ainda apresenta um farol de esperança para aqueles que se aventuram nos mares de nossa nação. Resta a nós, mercantes, nos preparar e esforçar para superar os momentos de tempestade em busca de mares tranquilos.

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Aluno do terceiro ano de Náutica, atualmente é o Vice-Presidente do Jornal Pelicano.