Entrevista – Diretor Sérgio Lima

O Oficial de Náutica Xavier compartilha conosco sua história como ex-aluno da EFOMM, seu período embarcado e principalmente a carreira que seguiu em terra. Sérgio Lima, como é chamado em terra, nos esclarece um pouco mais sobre demais oportunidades de trabalho em terra.

O 2º Oficial de Náutica (2ON), Sérgio Xavier de Lima Junior, se formou na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM) do Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA), em 1999, e praticou em empresas como FRONAPE (atual Transpetro), Flumar e Aliança. Nesta, também embarcou como Oficial por 2 anos e meio. Entretanto, optou por seguir a carreira em terra, ocupando, atualmente, o cargo de Diretor de Operações, Logística e Intermodal na CMA CGM.

Jornal Pelicano – Quando o senhor entrou no CIAGA?

Sérgio Lima – Entrei para adaptação no CIAGA em Fevereiro de 1996. E orgulhosamente me formei na Turma 99.

Jornal Pelicano – Conte-nos um pouco sobre o seu período embarcado.

Sérgio Lima – Contando com estágios e praticagem, embarquei em navios-tanques da antiga Fronape (NT Piquete e NT Itamonte), pratiquei em navio químico e porta contêiner (Araucária da Flumar e Copacabana da Aliança). Já como oficial embarquei somente por 2 anos e meio, porém com muita intensidade. Fiz 2 docagens nesse período e embarquei em quase todos os navios da Aliança. Isso, porque a cada folga que tinha sempre teve alguma “onça” pra safar em outro navio da empresa e já embarcava novamente com outro grupo.

Jornal Pelicano – Quando e porque o senhor decidiu trabalhar em terra?

Sérgio Lima – Foi por uma série de coincidências. Na época, tive uma proposta para trabalhar em terra, estava com casamento marcado e o desgaste de ter ficado quase 2 anos e meio sem folga acabaram me levando a decidir tentar a vida em terra. Acabei tendo a sorte de ter recebido no mesmo período duas propostas, uma de um terminal portuário e outra da própria Aliança. Então não tive duvidas e passei pro quadro de terra da Aliança.

Jornal Pelicano – Como planner, quais eram as suas atribuições?

Sérgio Lima – Nós eramos encarregados da integridade dos horários de nossos navios levando em conta aspectos como: controle de velocidade, controle de cada escala (desde disponibilidade de berço para atracação até quantidade de ternos disponíveis) e principalmente planejamento da operação levando em consideração esforços e estabilidade do navio.

Jornal Pelicano – E hoje, como diretor de operações, logística e intermodal, como o senhor atua em cada área?

essa posição exige muito menos técnica e muito mais gestão estratégica

Sérgio Lima – Como dizia um grande mestre da EFOMM (Mestre Brito), “felizmente ou infelizmente” essa posição exige muito menos técnica e muito mais gestão estratégica. Temos um time de gerentes de altíssimo nível técnico que permanentemente asseguram a execução das atividades de seus departamentos tanto Operacional quanto Comercial. Minha função é definir junto com eles a melhor estratégia para o desenvolvimento contínuo do departamento levando em consideração a individualidade de cada gerência de maneira que a “engrenagem” se encaixe perfeitamente.

Jornal Pelicano – Quais outras áreas o senhor acredita que um oficial mercante pode trabalhar em terra?

Sérgio Lima –  Não tem limites. Aqui em terra você pode ser um engenheiro civil trabalhando com venda de frete. Temos Oficiais Mercantes em posições estratégicas nas mais diversas industrias. A formação que temos nessa escola é muito superior a maioria das universidades do país. A nossa formação não é somente técnica. Os profissionais que saem da EFOMM tem maturidade, criatividade e sobretudo senso de responsabilidade que nenhuma faculdade ensina.

A formação que temos nessa escola é muito superior a maioria das universidades do país

Jornal Pelicano – O que o senhor acredita ser requisito do profissional marítimo para um bom desempenho em sua carreira?

Sérgio Lima – Criatividade e dedicação. Essas duas qualidades alinhadas são imbatíveis.

Jornal Pelicano – Como estão as oportunidades do mercado para absorver os profissionais recém-formados?

oportunidades para profissionais especializados não deixarão de existir

Sérgio Lima – Os Oficiais Mercantes sempre foram profissionais reconhecidamente de alto nível. Somente na área do comercio internacional temos terminais portuários, armadores, industria logística, em geral, tem sempre interesse nestes perfis. Nos próximos meses, enfrentaremos algumas restrições devido a situação geral do comercio internacional. Mas, oportunidades para profissionais especializados não deixarão de existir.

Jornal Pelicano – Como ex-aluno dessa escola, o que o senhor vê de diferente na formação de outrora e dos dias de hoje?

Sérgio Lima – Estou bastante tempo afastado da escola e não conheço muito a formação intelectual atual. Por outro lado, tive a honra de ser convidado para formatura do ano passado no CIAGA e percebi que a historia e tradição está totalmente preservada.

Jornal Pelicano – Do ponto de vista do senhor, que possui uma vasta experiência no mercado, quais são as previsões para o futuro da Marinha Mercante brasileira?

Sérgio Lima – A Marinha Mercante Brasileira vai continuar crescendo. Eventualmente passará por alguns ajustes devido a condições de mercado, mas sem sombra de dúvidas continuará crescendo. O nível de profissionalização já é ha um bom tempo um dos mais elevados.

A Marinha Mercante Brasileira vai continuar crescendo

Jornal Pelicano – Recentemente foi anunciado pelo governo um novo projeto de incentivo à marinha mercante, como o senhor enxerga o impacto dessas verbas no atual mercado, principalmente na área da cabotagem, principal beneficiada?

Sérgio Lima – A Cabotagem é um mercado em crescimento de dois dígitos por ano. O incentivo tem que ser permanente. Porém, para garantir o desenvolvimento constante deste mercado, o governo precisa estabelecer regras de exploração mais flexíveis que facilitem investimento estrangeiro, assim como regras de longo prazo que possam transmitir estabilidade e confiança para estes investidores.

Jornal Pelicano – Quais são as vantagens e as desvantagens que o trabalho como planner tem em relação ao trabalho embarcado?

Sérgio Lima – Única vantagem de trabalhar como planner é estar próximo da família quase que permanentemente. Desvantagem maior é financeira e pessoalmente gostava muito mais da rotina a bordo que em terra.

Jornal Pelicano – Como a atual crise econômica do país tem afetado a área do comércio marítimo ?

Sérgio Lima – Bastante. As linhas marítimas já demonstram novamente necessidade de racionalização de recursos que acabam impactando toda cadeia logística. Mas, esses movimentos são cíclicos e esperamos logo recuperarmos o crescimento.

Jornal Pelicano – O Jornal Pelicano agradece a oportunidade e a disponibilidade do seu tempo para tirar essas dúvidas e esclarecer para nossos alunos e leitores um pouco da realidade do mercado e das outras oportunidades que um oficial da marinha mercante pode atuar.

Sérgio Lima – Agradeço a oportunidade e me sinto muito honrado por ser lembrado pelo Jornal dos meus colegas Alunos da EFOMM. Abraços a todos.