Entrevista – Professora Melissa Menegon

Na série de entrevistas, temos o relato da professora Melissa Menegon, que leciona aulas de Prevenção contra Poluição. Entendedora e referência no assunto, Melissa conta a sua experiência do contato com a profissão e dá conselhos sobre a consciência ambiental, tema chave nos dias de hoje.

O Jornal Pelicano está realizando uma série de entrevistas com profissionais que tiveram diferentes experiências na Marinha Mercante, atuando nas muitas áreas que sustentam a atividade. A entrevistada da vez foi a professora Melissa Menegon, Arquiteta Urbanista, especialista em Gestão Ambiental e Gestão em Desenvolvimento local, além de professora do ensino marítimo nas áreas ambiental e segurança do trabalho, lecionando a disciplina de Prevenção e Controle da Poluição (PCP) para os alunos do primeiro ano. Ela fala sobre a importância da preservação do meio ambiente no contexto da operação de unidades marítimas e alerta os futuros oficiais mercantes sobre responsabilidade ambiental.

JORNAL PELICANO – Qual a sua experiência na Marinha Mercante?

PROFESSORA MELISSA – Em 2006, assumi a Coordenação de Projetos Socioambientais da Empresa MMX na construção do Porto do Açu, em São João da Barra/RJ. Por quase 2 anos, dentre algumas atividades, eu trabalhei embarcada num barco de pesca de arrasto para analisar os impactos do porto no pesqueiro de camarão sete-barbas da região de Grussaí. Eram 12 horas de trabalho.  Montamos um laboratório de Ciências do Mar no quintal da Colônia de Pesca, onde separávamos em vidro espécies da ictiofauna que vivia com o camarão e arrastávamos nas redes, devidamente identificadas e classificadas num vidro para exposição e trabalho de Educação Ambiental com a comunidade.

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A professora Melissa Menegon integrou uma equipe que investigou os impactos ambientais decorrentes da atividade portuária na pesca do camarão sete-barbas em Grussaí (Foto: Melissa Menegon/Acervo pessoal)

Depois, participei em 2014 do primeiro plano de área da Baia de Guanabara, na sala de crises, acompanhando o gerenciamento do simulado dos Planos de Emergência para contenção de acidentes com óleo e derivados e incêndio de embarcações na Baia.

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A simulação conta com empresas e órgãos públicos do PABG e visa a verificar se o funcionamento está adequado aos padrões preestabelecidos no Plano de Área, buscando sua aprovação de forma segura (Foto: Melissa Menegon/Acervo Pessoal)

No mesmo ano, participei de uma operação do INEA atendendo ao projeto de despoluição da Baia de Guanabara, onde fizemos 10 horas de trabalho de fiscalização e manobras para limpeza do lixo flutuante e dispersão mecânica de óleo na superfície da água.

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(Foto: Melissa Menegon / Acervo Pessoal)

JORNAL PELICANO – Qual a importância da prevenção ambiental na profissão?

PROFESSORA MELISSA – O mundo não é viável sem o seu mar! Qualquer atividade que vislumbre desenvolvimento econômico deve ter por princípio o respeito à vida. Dessa forma, fazer a gestão ambiental é sobretudo salvaguardar a vida no planeta… E a Marinha Mercante é responsável por mais de 90% do comércio entre os países. O mar é um patrimônio da humanidade, que todos temos o dever de preservar.

JORNAL PELICANO – A senhora já lidou com algum caso de grande de poluição? Quais são as principais medidas adotadas por uma empresa em um caso de acidente como esse?

PROFESSORA MELISSA – Diariamente lidamos com desafios dessa magnitude, mas me recordo do acidente na Baia de Guanabara em 2000, quando eu estudava Gestão Ambiental na COPPE/UFRJ e um de meus amigos era da área de risco da Petrobras. Foram mais de 1,3 milhões de litros de óleo em 40 Km² de mancha, provenientes de um duto da REDUC. Afetou o ecossistema do Manguezal no entorno da Baia e o cenário bucólico da Ilha de Paquetá entre outras consequências socioambientais. Vivi no olho do furacão! Foi um prelúdio de como somo vulneráveis a esses acidentes e pouco fazemos para ter sistemas seguros de prevenção e remediação.

O prazo de atuação inicial para um PEI (Plano de Emergência Individual) ou PAM (Plano de Ajuda Mutua) é mantido dentro das primeiras 24 horas após o acidente, procedimento padrão, que ao meu ver é muito falho… O meio ambiente não é uma matemática exata, onde podemos ensaiar cenários de risco e atuar sem erros… Quanto antes agirmos, menor os danos, mas nada do que foi será do jeito que já foi um dia!

JORNAL PELICANO – Qual a responsabilidade do oficial mercante na prevenção da poluição?

PROFESSORA MELISSA – O papel aceita tudo. Falta comprometimento e seriedade nas tomadas de decisões, e isso tentamos promover dentro do ensino marítimo no CIAGA, para que vocês, alunos, saiam melhores que entraram, conscientes dos riscos inerentes da atividade que abraçam e que serão futuros tomadores de decisão e formadores de opinião! Uma tripulação é reflexo do seu comando.

Ter uma equipe motivada em preservar nosso bem maior, a vida! Essa seria a responsabilidade do oficial mercante! Quem conhece, cuida… E quem cuida, ama!

JORNAL PELICANO – É possível reverter os danos ao meio ambiente quando ocorre um acidente com grande despejo de agentes poluentes, como o petróleo?

PROFESSORA MELISSA – O tempo na tomada de decisões e o preparo para as ações remediativas são primordiais. Quanto maior o tempo de exposição do ambiente aos agentes poluentes, maiores serão as sequelas da contaminação, levando em consideração a vulnerabilidade desses ecossistemas, por isso a importância das cartas SAO (Cartas de Sensibilidade a Ambiental a Derramamentos de Óleo). Eu levo a discussão para a sala de aula em nossa matéria, Prevenção e Controle da Poluição, pois acredito na excelência do conhecimento e que, quanto mais preparados os alunos estiverem para as adversidades, mais amplo será o leque de tomadas de decisão que os futuros oficiais e guardiões de nosso patrimônio marítimo terão para minimizar esses impactos.

JORNAL PELICANO – Quanto tempo demora para que uma grande área se reestabeleça após sofrer com um grande derrame de petróleo ou outra substância nociva?

PROFESSORA MELISSA – Não há um tempo na lógica humana que responda essa questão. A natureza nos desafia a entender qualquer lógica. O que sabemos é que é possível reverter o cenário. Depende da vulnerabilidade do local, tamanho dos danos, condições climáticas da área e principalmente as ações antrópicas no local. Temos bons exemplos da revitalização de áreas impactadas, quando há comprometimento com qualidade de vida (o rio Tamisa, em Londres), como também temos exemplos de descaso, (a Baia de Guanabara). Algumas embarcações lançam águas negras, lastro, resíduos de óleos, materiais de reparo entre outros e pouco é feito para devolver o lar ao símbolo da Cidade Maravilhosa, o boto cinza entre outros seres que dependem da salubridade desse sistema.

Considero boas práticas a bordo 80% da missão, 10% seria a manutenção correta das embarcações, 8% atuação dos órgãos fiscalizadores competentes e 2 % adversidades naturais.

JORNAL PELICANO – A senhora pode dar algum conselho aos alunos sobre a responsabilidade ambiental?

PROFESSORA MELISSA – Apenas se apaixonem pela vida! A melhor guerra é aquela em que não entramos. Então viver em harmonia com a natureza seria o caminho. Os alunos transpiram isso em nossas aulas e sei que, ao escolherem essa profissão, buscaram o melhor para si e para aqueles que amam… Façam acontecer! Façam a diferença!

JORNAL PELICANO – Quanto a senhora baseia suas aulas na experiência adquirida nos seus embarques?

PROFESSORA MELISSA – Minhas aulas são baseadas no amor com que exerço minha missão desde 2011. Aprendi muito com os pescadores com quem trabalhei (desde 1998), nos mergulhos e viagens que realizei e com os marítimos com quem contribuí nessa constante arte do saber e principalmente no convívio a bordo, onde estamos cercados de água por todos os lados e o pensamento se faz em fuga nessa imensidão azul, berçário de vida, de história, dos elos perdidos e achados de nossa existência. Ao meu ver, Ordem é Progresso com amor, e o processo de ensino tem que buscar valorizar o indivíduo para que esse exerça sua função na sociedade com sabedoria, valorizando a vida.