Entrevista – Professor Alves

O Jornal Pelicano está realizando uma série de entrevista com profissionais com experiência nas mais diversas áreas da Marinha Mercante. Dessa vez, foi o professor Marcelo Alves, professor da disciplina de Embarcações de Sobrevivência e Salvamento (EESS), o entrevistado que gentilmente concordou em dividir conosco trechos de sua carreira. O discente, que possui também experiência como planner, conta um pouco mais sobre essa área específica da atividade mercante.

JORNAL PELICANO – Qual é a história do senhor na Marinha Mercante?

PROFESSOR ALVES – Formei-me na EFOMM/RJ em 2003, fiz minha praticagem na Norsul, em um navio graneleiro, e depois da praticagem fui para a SS-51, uma plataforma semi-submersível com sistema de DP. Lá fiz o curso de Operador de Posicionamento Dinâmico. Fiquei lá por dois anos e fui trabalhar na VALE como Supervisor de Operações Marítimas, no Terminal da Ilha Guaíba em Mangaratiba, depois trabalhei como planner na CSAV/Libra, e lá fiquei apenas por alguns meses, pois a empresa se transferiu para Itajaí/SC. Como não quis sair do Rio de Janeiro, não a acompanhei, e aí começou minha história no CIAGA, onde cheguei em Outubro de 2007, contratado pela FEMAR. Em 2009 entrei para a Marinha do Brasil, como Oficial RM2, permanecendo até 2014, quando passei no concurso para o Magistério, e aqui estou como professor.

JORNAL PELICANO – Qual é o trabalho de um planner?

O planner é responsável pelo planejamento de carga e descarga de navios porta-contêineres

PROFESSOR ALVES – O planner é responsável pelo planejamento de carga e descarga de navios porta-contêineres, esse trabalho funciona em sincronia com o terminal, o planner realiza o plano de carga e envia aos terminais onde o navio fará escala. Existe uma pessoa no terminal que acompanha e executa o planejamento, claro, juntamente com a anuência do Imediato da embarcação que está em contato direto, tanto com o terminal, quanto com o planner da empresa.

JORNAL PELICANO – Quais são as vantagens e desvantagens dessa profissão?

Para o planner, a vantagem é estar em terra e ganhar como se estivesse embarcado.

PROFESSOR ALVES – Como qualquer profissão para se falar de vantagens e desvantagens temos que ter uma referência de comparação. No nosso caso, vou comparar com a vida embarcado. Para o planner, a vantagem é estar em terra e ganhar como se estivesse embarcado. Você consegue, também, aplicar os conceitos de estabilidade aprendidos na formação, e não há a obrigatoriedade de se estar em um local físico para trabalhar: pode se planejar em qualquer lugar; e há, além disso, o contato com diversos tipos de pessoas, de culturas e hábitos diferentes. A desvantagem é que não há hora para trabalhar, se o navio atraca de madrugada, o planner deve estar alerta para qualquer alteração no seu planejamento, caso seja necessário.

JORNAL PELICANO – Por que o senhor se interessou por essa área?

PROFESSOR ALVES – No meu caso foi oportunidade, eu conhecia algumas pessoas que trabalhavam na empresa, surgiu a oportunidade de fazer uma entrevista e consegui a vaga.

JORNAL PELICANO – Existe algum pré-requisito para ser planner?

PROFESSOR ALVES – Pré-requisito exigido não, pois cada empresa usa um software de sua preferência, porém é desejável que o candidato tenha fluência em inglês, prática em informática e bons conhecimentos de estabilidade e TTM.

JORNAL PELICANO – O que o senhor recomendaria àqueles que desejam seguir essa carreira?

PROFESSOR ALVES – Estudem inglês! E esforcem-se ao máximo para aprender estabilidade e TTM.

JORNAL PELICANO – Como planner, qual foi o maior desafio enfrentado pelo senhor?

Cada carregamento é um desafio.

PROFESSOR ALVES – Cada carregamento é um desafio, não há como “prever os imprevistos”, pois, por exemplo, o navio pode mudar de rota, e aí muda todo o plano. Pode, além disso, haver alguma avaria durante o carregamento ou descarregamento… não tenho como especificar o maior desafio de todos, mas enfrentei situações de estresse ao longo dessa jornada.

JORNAL PELICANO – Por que o senhor decidiu lecionar no CIAGA?

PROFESSOR ALVES – Como já disse antes, a empresa foi transferida para Itajaí/SC, eu não quis sair do Rio e surgiu a oportunidade de ir para o CIAGA.

JORNAL PELICANO – O senhor acredita que a experiência de professores mercantes seja importante na formação dos alunos? Por quê?

PROFESSOR ALVES – Não só importante como essencial. Nós temos, além do conhecimento, experiências para passar aos alunos, o que, na minha visão, engrandece muito o processo de aprendizagem. Dessa forma, os conceitos são ilustrados por fatos reais ocorridos ou conhecidos pelo docente.
JORNAL PELICANO – Para encerrar, mestre, há algo que o senhor queira dizer?
PROFESSOR ALVES – Sim, agradeço muito a oportunidade de contar um pouco da minha história e desejo a vocês muito sucesso nesta profissão difícil, porém muito engrandecedora.