Em razão do dia das mães, o Jornal Pelicano entrevistou a 1ON Cintia Tila, que além de DPO na Constellation, antiga Queiroz Galvão, também é mãe de um menino de 6 anos. Agradecemos muitíssimo pela atenção! Segue na íntegra a entrevista.

Quais são os maiores desafios que enfrenta sendo mãe e mercante?

R: A saudade, com certeza, é a maior. Ele meio que se acostumou, pois eu voltei a embarcar quando ele tinha 6 meses. Desde pequeno, sabe que eu vou e volto. Ele lida bem com isso, mas eu que sinto mais. Acabo conseguindo vencer dia após dia por ele mesmo, e por gostar do que faço.

Como seu filho lida bem com isso? Acha que isso o tornou mais independente?

R: Ele tem o suporte do pai, que acabou abdicando mais do trabalho para ficar mais com ele devido a minha ausência. Ele trabalha menos tempo justamente para suprir a minha falta. Meu filho estuda integralmente, mas o pai cuida, faz comida, passeia, leva para o futebol… Eles se distraem bastante juntos. No final de semana, temos suporte da avó, da minha irmã… Acho que isso é essencial pra suprir minha falta. Ele sente saudades, mas fica “de boa”, como ele mesmo diz.

Percebemos que é comum profissionais saírem da Marinha Mercante após terem filhos. Além da paixão pelo mar, qual outro(s) fator(es) influenciaram na decisão de continuar trabalhando embarcada após tornar-se mãe?

R: Quando fiquei grávida, trabalhei na base da empresa em terra. Eu chorava antes de sair de casa. Ali, eu vi que não era minha praia. Trânsito todo dia, chegar tarde em casa, fim de semana passa voando… Como eu sempre trabalhei embarcada, senti muita diferença. Sentia falta da folga prolongada, dos domingos seguidos. Assim que voltei a embarcar, a galera de bordo não entendeu nada porque eu voltei com sorriso de orelha a orelha. O salário embarcada é um diferencial e acaba influenciando também. 

Devido às escalas de serviço, os mercantes acabam perdendo momentos importantes da vida de seus entes queridos em terra. Quanto a esses momentos na vida de seu filho, como você e sua família lidam com isso?

R: Na verdade, até alguns trabalhos “terráqueos” também acabam fazendo com que os trabalhadores passem longe da família certas datas especiais, “faz parte né”. Eu tento conciliar minhas férias ou no dia das mães, ou no Natal, que são as datas que sinto que mais preciso estar por perto. Quando não tem jeito, mantenho sempre contato por chamada de vídeo, ligação… No dia das mães, minha irmã já foi me substituir na festinha da escola, e meu filho super entendeu.

Muitas pessoas não seguem a carreira mercante ou desistem no meio dela devido a saudades da família ou responsabilidades em terra. Quais dicas você daria para essas pessoas?

R: Eu acho que não é todo mundo que se encaixa nessa vida mercante. Independente de ser mãe ou não, nem todos se adaptam a ficar longe da família, longe da vida de terra. Acredito que a pessoa tem que estar onde se sente bem, juntar os prós e contras da carreira, e, se realmente não for pra ser, ter paciência e procurar onde realmente seja seu lugar.

O Jornal Pelicano agradece mais uma vez a 1ON Cintia Tila por disponibilizar seu tempo para essa entrevista e aproveita para parabenizar todas as mães, especialmente as mercantes, que lutam constantemente contra a saudade de seus filhos por serem apaixonadas pelo mar!