Entrevista – CT Tiago Moura

O Capitão-Tenente Tiago Moura, Oficial de Manobra e Chefe de Operações do NDCC Garcia D'Ávila, concede uma entrevista falando sobre sua carreira e função dentro do navio.

O Capitão-Tenente Tiago Moura, Oficial de Manobra e Chefe de Operações do NDCC Garcia D’Ávila (chamado de “Terror da Praia”), foi um dos oficiais que, durante a Comissão Mercantex, permitiu um maior contato dos alunos da EFOMM com as fainas e a rotina de bordo. O oficial, que é responsável por manobrar o navio nas horas mais importantes, concordou em responder às perguntas do Jornal Pelicano que estão abaixo na íntegra.

Jornal Pelicano – Qual a sua idade quando ingressou na MB e há quanto tempo está na MB?

CT Tiago Moura – Ingressei em 2006, com 18 anos, tenho 12 anos de carreira.

Jornal Pelicano – Por que escolheu Armada?

CT Tiago Moura – Escolhi a Armada porque era a que mais me atraía e pelas muitas ramificações que possui.

Jornal Pelicano – Quais as atribuições de um Chefe de Operações e de um Oficial de Manobra?

CT Tiago Moura – Um Chefe de Operações é responsável por muitas coisas, dentre elas o planejamento de uma comissão, o controle para que tudo seja executado de forma correta, o gerenciamento dos encarregados do departamento de operações que administram as divisões de operação, ou seja, o planejamento, execução e controle da missão. Já o Oficial de Manobra é um cargo normalmente exercido pelo encarregado de comunicações do navio (O-1). Porém, por ser um cargo de confiança, o comandante escolhe quem ele acha que melhor desempenhará a função. Em todos os guarnecimentos especiais do navio, o Oficial de Manobra estará no passadiço (DEM, postos de combate, postos de abandono…). Simplificando, ele é responsável por manobrar o navio nas horas mais importantes.

Jornal Pelicano – Qual a situação mais difícil que já viveu a bordo?

CT Tiago Moura – Houve algumas situações difíceis, mas todas serviram para fazer crescer o navio e cada militar. Suspendemos para uma comissão longa e muito boa. Durante a comissão, bem no início, tivemos que voltar por causa de um pistão do nosso motor que foi expelido. Passamos um bom tempo parados em reparo, podia ter gerado mortes no navio, foi bem complicado, mas graças a Deus deu tudo certo e o Tubarão está melhor do que nunca.

(Foto: Al. Thalita / Jornal Pelicano)
Jornal Pelicano – Quando toca o DEM (Detalhe Especial para o Mar), qual a maior dificuldade para a equipe estar pronta? E qual o tempo limite para estarem em seus postos?

CT Tiago Moura – A dificuldade para guarnecer o DEM é que quando estamos a bordo não estamos só pelos guarnecimentos. Muitos estão trabalhando também em outros setores, então tem que ser parado o que se está fazendo para guarnecer seu posto. Não demora muito, o tempo estipulado por norma é de 3 minutos.

Jornal Pelicano – Quais características que um oficial da Marinha de Guerra ou Mercante deve ter?

CT Tiago Moura – A meu ver, deve ter força física e mental, raciocínio rápido e tranquilidade para agir, conhecimento e mais algumas coisas. Falo pela Marinha de Guerra, pela Mercante não tenho conhecimento suficiente para responder. O que salta aos olhos é disponibilidade de tempo, viver só a metade da vida fora do trabalho não é para qualquer um.

Jornal Pelicano – Qual a diferença de estar a bordo de um navio de 1ª classe que possui características semelhantes a um navio mercante quando comparado a outros navios da MB?

CT Tiago Moura – Acho que a principal diferença é o maior conforto, no caso do meu navio. No mais é muito diferente de um mercante, é um navio voltado para o cunho militar.

Jornal Pelicano – O senhor possui outras responsabilidades administrativas a bordo? Quais?

CT Tiago Moura – Sim, sou um dos dois controladores de aeronaves, “CAT”. Quando operamos com aeronaves, eu e outro oficial que as recebemos e controlamos as tarefas que forem desempenhar.

(Foto: Al. Thalita / Jornal Pelicano)
Jornal Pelicano – Em quais outros navios já embarcou?

CT Tiago Moura – Já embarquei no Cisne Branco, nos avisos de instrução, no NDM Bahia, no NDCC Alte Saboia, nas Fragatas Niterói e Liberal, e no NE Brasil.

Jornal Pelicano – Qual operação marcou a vida do senhor até aqui?

CT Tiago Moura – É difícil, mas se puder ser mais de uma, a viagem de instrução é uma delas, conhecemos muitas coisas novas, ampliamos nossa cultura e tivemos muito tempo longe de casa, o que nos fez crescer, apesar da saudade. “Os Haitis” que eu fiz também foram comissões marcantes, comissões de dois meses, maiores que as tradicionais. Comissão da ONU de apoio humanitário, onde pudemos crescer como espírito de corpo e em conhecimento do navio.

Jornal Pelicano – O senhor atualmente exerce uma função que normalmente seria de um Capitão-de-Corveta, poderia explicar como isso funciona?

CT Tiago Moura – A função de Corveta é relativa a ser Chefe de Operações. Tínhamos um Capitão-de-Corveta na operação, mas desembarcou um pouco antes da Comissão Mercantex. Então, por enquanto eu estou na função. Isso depende da disponibilidade e intenção da Marinha.

Jornal Pelicano – O que achou da Comissão Mercantex?

CT Tiago Moura – A Mercantex foi interessante, podia ter sido melhor, poderia ser uma comissão maior, com um maior aproveitamento, mas foi bom para vocês, conheceram o regime de porto, navegaram um pouco, pegaram um pouco da vida de Marinha.

A equipe do Jornal Pelicano agradece ao Capitão-Tenente Tiago Moura a oportunidade da Comissão Mercantex e a disponibilidade de seu tempo para tirar nossas dúvidas e esclarecer para nossos leitores aspectos da rotina a bordo de um navio da Marinha do Brasil.

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Aluno do 2º ano de Náutica da EFOMM, Vice-Presidente do Grêmio de Náutica e Editor do Jornal Pelicano.