A promessa do PROMEF e o ciclo da Marinha Mercante

Com a atual crise e a descrença cada vez maior no mercado brasileiro, o PROMEF - programa da Transpetro criado ainda em 2004 - pode vir à acabar.

Cerimônia de inauguração do navio Marcílio Dias da Transpetro. (Imagem: Google Imagens)

Em 2004, a Transpetro lançou uma nova estratégia: o PROMEF – Programa de Modernização e Expansão da Frota – que tem como objetivo renovar a frota da nacional. Encomendando 49 petroleiros e investindo R$ 11,2 bilhões, essa empreitada visava tirar a construção naval de sua inércia de 36 anos. Este programa consiste em um desenvolvimento mútuo de estaleiros, da construção naval e do transporte aquaviário.

Este programa do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), visa uma modernização dos estaleiros tornando-os mais competitivos, construção de navios e estipula um índice de nacionalização a bordo em, no mínimo, 65%. Tendo a competitividade internacional como objetivo, a Transpetro criou o SAP (Sistema de Acompanhamento da Produção), que tem como função inspecionar a qualidade das operações dos estaleiros, além de indicar melhorias para estes.

A transportadora também criou o PROMEF Hidrovia. Semelhante ao programa anterior, este plano pretende desenvolver o transporte da hidrovia Tietê-Paraná com a adoção de 20 empurradores e 80 barcaças trabalhando em comboio. As embarcações também serão construídas em solo brasileiro.

Navio Sérgio Boarque de Hollanda da Transpetro. (Imagem: Google Imagens)
Navio Sérgio Buarque de Hollanda da Transpetro. (Imagem: Google Imagens)

O PROMEF foi dividido em três etapas. Na primeira fase, foram encomendados 26 navios, na segunda, 23 navios e a terceira fase foi a aquisição dos empurradores e barcaças. Abaixo há a relação de navios e estaleiros, divulgada pela Transpetro.

1ª Fase

– Estaleiro Atlântico Sul (PE):
10 suezmax e 5 aframax
– Estaleiro Ilha S.A. (EISA) (RJ):
4 panamax
– Estaleiro Mauá (RJ):
4 produtos (derivados do petróleo)
– Estaleiro Vard Promar (PE):
3 gaseiros

2ª Fase

– Estaleiro Atlântico Sul (PE):
4 suezmax DP e 3 aframax DP
– Estaleiro Vard Promar (PE):
5 gaseiros
– Estaleiro a ser licitado:
3 bunker
– Estaleiro Ilha S.A. (EISA) (RJ):
8 produtos

3ª Fase

– Estaleiro Rio Tietê (SP):
20 empurradores
80 barcaças

Em novembro de 2004, a Transpetro lançou o edital para selecionar companhias para a licitação. Já em 2007, foram assinados os contratos de construção com os estaleiros listados. Em 2008, iniciou-se a segunda fase do PROMEF, e no ano seguinte, a quilha do primeiro navio começou a ser batida.

Em 2010 vários navios do programa foram batizados e lançados. Em 25 de novembro de 2011, entrou em operação o primeiro navio do PROMEF, Celso Furtado. No dia 28 de janeiro deste ano, o navio gaseiro Barbosa Lima Sobrinho também entrou em operação.

Entretanto, nem tudo saiu como o planejado. Desde a entrega da 12ª embarcação, Marcílio Dias, o programa vem sendo cada vez mais descreditado. Comparada às anteriores, a cerimônia de entrega do suezmax não estava à altura da ocasião (cerimônias com mais de 2 mil pessoas, dentre elas autoridades e lideranças do setor marítimo), considerando que o navio transportará quase metade da produção nacional de petróleo.

Navio Dragão do Mar no final de sua construção. (Imagem: Google Imagens)
Navio Dragão do Mar no final de sua construção. (Imagem: Google Imagens)

A política de afretamento da Petrobras levou a estatal a contratar cerca de 300 navios estrangeiros, contra apenas 33 navios brasileiros, sendo somente 12 as embarcações construídas e entregues no século atual. “Uma Marinha Mercante forte é estratégica para o país e os recursos investidos dentro do Brasil geram um ganho econômico em escala”, palavras de Severino Almeida, presidente do SINDMAR.

“A venda da Transpetro ainda está no campo do boato, mas se isso acontecer esperamos que o novo acionista mantenha o PROMEF”, Sérgio Bacci, vice-presidente do SINAVAL.
O PROMEF tem tido sucessivos atrasos e cancelamentos (14 embarcações canceladas, 3 bunker, 3 panamax e 8 embarcações para produtos), porém de acordo com a Transpetro, outras cinco embarcações encomendadas entrarão em operação em 2016. Com o número de navios cancelados superior ao de entregues, cancelamento de navios em fase final nos estaleiros e a atual crise da Petrobras, o futuro do PROMEF e da Marinha Mercante é cada vez mais incerto.

Mas embora todas essas notícias possam parecer difíceis, principalmente diante do estado político e econômico atual, não é a primeira vez que isso acontece. A história da Marinha Mercante é cíclica, e logo bons ventos recomeçarão a soprar.

Navio José Alencar atracado no Rio de Janeiro. (Foto: Al. Lucas de Jesus/ Jornal Pelicano)
Navio José Alencar atracado no Rio de Janeiro. (Foto: Al. Lucas de Jesus/ Jornal Pelicano)

Estes são os navios entregues à Transpetro até agora:

Gaseiros: Oscar Niemeyer;
Suezmax: André Rebouças , Henrique Dias, Dragão do Mar, Zumbi dos Palmares, João Cândido, Marcílio Dias;
Panamax: Anita Garibaldi;
Navios de produtos: José Alencar, Rômulo Almeida, Sérgio Buarque de Holanda e Celso Furtado;