A II Semana da Profissão encerrou na noite de quinta-feira, 06 de agosto, no Auditório Almirante Newton Braga do Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA). Estavam presentes não só alunos dos três anos da Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM), como também o Exmo. Sr. Comandante do CIAGA, CAlte (CA) Gilberto Cezar Lourenço, sua esposa Elisandra, o Ilmo. Sr. Comandante do Corpo de Alunos, CF (CA) Gilmar, e os nossos visitantes, o Capitão de Longo Curso Cézar, e os palestrantes 1ON Fernanda Madeira e 1ON Ricardo, que foram recebidos como filhos pródigos voltando ao lar.

A Semana da Profissão, organizada pela Sociedade Acadêmica da Marinha Mercante (SAMM), vem desde o ano passado com o intuito de auxiliar os alunos do 1º ano na escolha que decidirá que rumos tomarão nos anos seguintes na Escola, na praticagem e para o resto de suas vidas, trabalhando a bordo ou em terra. “É o que eu gostaria que fizessem por mim”, disse um dos organizadores, Al. Monteiro (3º Ano). Por esse motivo a escolha dos palestrantes foi a melhor possível. Formados em 1999 pelo CIAGA (segunda turma com mulheres da Escola, 17 alunas), os dois já trabalharam em plataforma, apoio à plataforma (off-shore), navegação de longo curso, e apoio em terra. Depois da EFOMM, só foram reestabelecer contato quando ambos trabalhavam na Maersk, e começaram a nova vida “juntos”. Hoje já possuem dois filhos, um de 5 anos e o outro de 3, que estavam ansiosos para visitar os pavões de nosso Centro. “Quem sabe se eles passarem no concurso”, disse o pai.

VIDA EMBARCADO

Ambos os temas foram abordados pelos dois palestrantes. Mas o 1ON Ricardo, talvez pela sua vocação para ensinar, inevitavelmente usou muito do seu tempo para falar da EFOMM de outrora, da vida nas mais diversas embarcações que já viveu, e o mercado marítimo atual. Aclamado por diversos alunos no Auditório, como os alunos do 3º Moreno e Santini, que fizeram questão de ressaltara seu ex-professor de Noções de Embarcação Off-Shore (NEO) como o melhor que já tiveram durante sua formação no CIAGA. Ao final, a palestra provou-se uma verdadeira aula, altíssimo nível, proporcionando aos presentes uma visão grandiosa e esperançosa do nosso futuro.

Sobre o CIAGA de antigamente, quando além de pavões haviam gansos, o professor falou sobre os embarques que os alunos faziam durante os 4 anos de curso: 2 semanas ao final do 1º ano, para decidir entre Máquinas ou Náutica; 6 meses ao final do 3º ano, PIN; e 6 meses ao final do 4º ano, PREST. Depois do último período de embarque, era entregue o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que era feito durante a estadia do aluno a bordo.

Um ponto muito importante que o palestrante ressaltou mais de uma vez, foi a excelência do ensino da nossa escola, tanto no antes, quanto no agora:

“Orgulhem-se de estudar na EFOMM, de estudar no CIAGA! Eles não são melhores do que nós! ”

Ricardo fala que já embarcou com dinamarqueses, escoceses, ingleses, e todos eles se assombram com a quantidade de conhecimento que nós temos ainda no começo de nossas carreiras, e por isso, ele e Fernanda entre muitos outros, passaram por diversas situações em que foram alvo do preconceito de alguns tripulantes. Disse que nossa Escola proporciona condições que muitas universidades, brasileiras e estrangeiras, não dispõem aos alunos. Habitação, alimentação, cursos ministrados de graça, que ao redor do globo são pagos. Valorizou o militarismo dela, fator que o incomodava quando ainda era aluno, mas pode perceber, quando a bordo, a importância do respeito à hierarquia e à disciplina que já estava instituído em si.

Tocou em assuntos também da sua área de especialidade, o off-shore. Falou do leque de funções de um Oficial de Máquinas e do Oficial de Náutica (sendo o primeiro bem maior que o segundo), dos cursos necessários para poder embarcar, tanto pelo CIAGA quanto por outras escolas vistoriadas e credenciadas pela Diretoria de Portos e Costas. Relembrou os alunos presentes que, apesar de vários atrativos, o ambiente da plataforma é “hostil” para mercantes. “Não é o nosso sindicato SINDMAR que nos rege lá dentro; é o SINDOB ou SINDIPETRO. O Comandante da embarcação nem sempre é o ‘01’ de lá; acima dele pode haver o gerente da plataforma e o supervisor de perfuração. ”

FAMÍLIA

A 1ON Fernanda Madeira usufruiu do seu tempo para falar mais deste tema. Dos esforços e sacrifícios para fazer a relação do casal funcionar: a dificuldade de comunicação; as idas e vindas no setor de RH de suas empresas para tentar conciliar as suas respectivas escalas; ter de ser transferida para o apoio em terra, começar a construir uma vida sem seu cônjuge ao lado.

Para começar a executar os planos, Fernanda optou por trabalhar em terra pela Petrobrás, no começo com Verificação de Contrato: “Um emprego legal, mas que eu não me identifiquei. Voltei para bordo porque essa sempre foi a minha verdadeira paixão. Eu nunca havia pensado em parar de embarcar. E ainda pretendo voltar. ”. Recebeu um convite para voltar para terra, e aceitou. Quando desembarcou, descobriu que estava grávida. Um fato relevante que ressaltou, foi o apoio da empresa durante o período de gestação e posterior. Apesar de não haver uma legislação que realmente assegure seus direitos, conseguiu 6 meses de licença maternidade e a empresa optou por não lhe enviar em viagens longas. Porém isso é algo muito relativo, como explica: depende do seu empenho, a sua qualidade como profissional; depende da sua relação com a sua empresa; depende da disponibilidade da empresa. “Se você é um bom profissional, você tem emprego em qualquer lugar, e sua empresa não vai querer te perder. Irá assegurar a você todos os benefícios. ”

Precisa ser uma vida familiar planejada, porque assim será mais tranquila. Deve ser pensada e trabalhada. Pelo fato da Marinha Mercante ser uma “família pequena”, as nossas ações irão nos perseguir pela carreira, sejam elas boas ou más, desde a praticagem. Ricardo e Fernanda concordam em dizer que, quando jovem, é normal querer viver a sua juventude, mas devemos nos manter íntegros: moralmente, profissionalmente e emocionalmente. Há o momento certo para se criar a família, e o momento de trabalhar. O caráter, que formamos em casa, aperfeiçoamos na Período de Adaptação no CIAGA, é vital para a carreira.

“Vivam, namorem, casem, se divirtam! Mas planejem, sem pressa. ”

Respondendo às perguntas, falaram da dificuldade da comunicação ainda um pouco precária, mas bem mais evoluída do que alguns anos atrás. “O custo serviço de comunicação é caro. É um requisito obrigatório e contratual ter canal de comunicação, mas não há nenhuma cláusula dizendo que tem que ser bom. ”, disse Ricardo sobre o off-shore. Fernanda também contou a grande expectativa ao atracar em algum porto ao redor no globo, à espera de singelas cartas de familiares distantes. Falaram da necessidade absoluta do inglês, todos os dias de sua vida a bordo. Das possibilidades de embarcar com familiares, do variável tempo de estadia enquanto o navio está atracado.

Tomando a palavra no final da palestra, o Almirante Lourenço parabenizou os organizadores e agradeceu as palavras dos palestrantes quanto a Escola : “É importante ouvir aqui o bem que a EFOMM fez na vida de cada um. Talvez o nosso âmbito militar seja um dos motivos do nosso destaque comparado a várias outras. ”. Também falou brevemente de sua própria experiência nos seus 37 anos de mar, e a dificuldade de deixar a família para trás, às vezes inesperadamente. Como os ex-alunos pareceram concordar, você embarca pensando em sua família, e eles lhe dão o apoio para fazer o trabalho direito, e voltar para eles em segurança, íntegro.

O cenário econômico atual fora retratado como passageiro pelos palestrantes. Aconselharam a filtrar muito do que a mídia vem informando ultimamente, pois a maioria é de grande especulação. Garantem que há muitas vagas no mercado, e quem ele vai crescer mais ainda com a exploração da camada pré-sal, que já começou. A palestra que durou um pouco mais de duas horas fora um privilégio de ouvir durante todo o tempo. Serviu para iluminar e dar esperança para os alunos. A relação harmoniosa e apaixonada dos casais criou uma atmosfera agradável para os ouvintes, que foram tratados com humildade e simpatia pelos oficiais, tornando a noite de quinta-feira lúdica e instrutiva.

Confira fotos da palestra em nossa galeria:

II Semana da Profissão: 3º dia

Fotos: Al. Nascimento.

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Praticante Oficial de Náutica, foi coordenador geral do Jornal Pelicano no ano de 2016.