Entrevista – Professor Muniz

Entrevista com o professor Muniz, Capitão de Cabotagem com vasta experiência tanto em mar quanto em terra e que hoje ministra aulas aos alunos da EFOMM.

O Capitão de Cabotagem (CCB) Muniz, formado da Turma de 1984, leciona para os três anos escolares da EFOMM, e nessa edição das entrevistas do Jornal Pelicano, conta um pouco da sua experiência de vida, desde os tempos de escola como aluno até hoje em dia, novamente neste templo de conhecimento, mas desta vez como professor. Após aqui formar-se, praticou na FRONAPE (Frota Nacional de Petroleiros), onde trabalhou ao longo de sua carreira embarcado, até 1996, quando passou a exercer atividades em terra, na sede da empresa, cuidando da parte de operação dos navios da própria Petrobrás. Foi por estar lidando sempre com a área de segurança, controle de incêndio, salvatagem e economia do transporte marítimo que hoje leciona as matérias relacionadas a esses assuntos, trazendo para bordo do CIAGA não só conhecimento, mas também toda a experiência que apenas se adquire após anos como mercante.

JORNAL PELICANO — Por quanto tempo e onde o senhor embarcou? Como foi a experiência?

PROFESSOR MUNIZ – Trabalhei em navio mercante em rotas comerciais do Longo Curso e cabotagem, com viagens bastante longas e férias menores quando comparadas com as atuais. Já durante a praticagem tive a oportunidade de visitar vários países. Depois de formado, viajei principalmente pelas linhas da Ásia, descritas no livro do CLC Ronaldo Cevidanes como a “rota da solidão” (Brasil-Japão-Golfo Pérsico-Brasil), nos navios ore/oil da Petrobras, exportando minério e trazendo petróleo do Oriente Médio. Entendo que o profissional do mar deve vencer vários desafios, tem de estar preparado para o afastamento familiar e do convívio social. [quote_center]“Não se deve pensar apenas na remuneração.”[/quote_center]

Não se deve pensar apenas na remuneração. Apesar de ser um trabalho financeiramente equilibrado, há desvantagens, como não acompanhar o crescimento dos filhos e não estar presente nas emergências que todos têm, como perdas familiares, por exemplo. Foi o que me fez buscar o trabalho em terra, em atividades relacionadas ao mar, mesmo com salário inicial menor.

JORNAL PELICANO — Como foi a experiência de trabalhar em terra?

PROFESSOR MUNIZ – O marítimo trabalhando em terra conhece bem as atividades operacionais do navio, por tê-las vivenciado. Conhecendo as características das pessoas, e das necessidades atípicas da organização de uma embarcação, ele passa a ter uma visão comercial da atividade, se envolvendo com os contratos, a performance, e os desafios do mercado. O marítimo pode e deve contribuir nessas atividades comerciais, associando as boas práticas de bordo aos interesses empresariais.

JORNAL PELICANO — Por que o senhor decidiu lecionar no CIAGA?

PROFESSOR MUNIZ – Decidi fazer isso como um complemento… após passar pelo mar e por atividades operacionais e comerciais em terra, pretendi dar uma contribuição ao ensino e formação dos futuros oficiais.

JORNAL PELICANO — Como o senhor enxerga ex-alunos que já embarcaram virem lecionar no CIAGA?

[quote_left]Vejo como uma continuidade do trabalho.[/quote_left]PROFESSOR MUNIZ – Vejo como uma continuidade do trabalho. Aluno da EFOMM, profissional do mar e instrutor. Pessoalmente, para o oficial mercante, ser instrutor é uma honra, e poder conviver com as próximas gerações que estão se formando, e estar constantemente aprendendo, buscando interagir e colaborando, apresentando a experiência adquirida na Marinha Mercante é ter a oportunidade de aprender sempre.

JORNAL PELICANO — O senhor gostaria de dar algumas dicas aqueles que optaram pela profissão mercante?

PROFESSOR MUNIZ – Gostaria de dar cinco dicas:

  • Preocupação fundamental com a segurança pessoal, pois é uma atividade com elevado risco de acidente ou perda de vida. Por que? Embora possa haver cada vez menos probabilidades de acidentes, suas consequências podem ser muito altas.
  • Que busquem sempre ter um bom relacionamento com os colegas de bordo, interagindo pro-ativamente na resolução de conflitos
  • Que entendam os desafios e diferenças culturais ao lidar com outras nacionalidades, evitando uma “Torre de Babel”.
  • Buscar estar sempre se aperfeiçoando, através de complementação de estudos e se possível, pós-graduações.
  • Acompanhar e participar das decisões de sua classe, no âmbito sindical legitimo.

JORNAL PELICANO — O senhor recomenda algum curso?

PROFESSOR MUNIZ – Recomendo cursos no campo de atuação das áreas de gestão portuária, de shipping, administração, segurança e meio ambiente.

JORNAL PELICANO — Por que o senhor escolheu náutica?

PROFESSOR MUNIZ – Escolhi náutica por ter características pessoais voltadas para a administração, enquanto o pessoal de máquinas tem o perfil voltado para a engenharia… pois não tenho aptidão para a área de engenharia, e sim para a de administração, humanas.

JORNAL PELICANO — O que o senhor acredita ser o maior desafio para o piloto a bordo?

PROFESSOR MUNIZ – Saber lidar com as pessoas, de maneira equilibrada, pessoal e profissional, construindo boas relações, sempre.

JORNAL PELICANO — Como o senhor vê a Marinha Mercante da sua época e a de hoje em dia?

PROFESSOR MUNIZ – Evoluiu bastante a legislação voltada para segurança e proteção ambiental, e a fiscalização das autoridades a bordo. No Brasil, melhoraram as relações trabalhistas.

JORNAL PELICANO — O senhor leciona as disciplinas relacionadas a segurança e salvatagem. Já enfrentou algum acidente a bordo?

PROFESSOR MUNIZ – Eu já estive presente em princípios de incêndio e acidentes pessoais, porém, felizmente, de baixa gravidade.

JORNAL PELICANO — Qual foi a situação mais difícil que já passou, e como o senhor superou?

PROFESSOR MUNIZ – A pior situação que já passei se refere a tufões nos Oceanos Pacífico e Índico e não a acidentes de trabalho, causando danos à embarcação, mas felizmente não causando danos aos tripulantes.

JORNAL PELICANO — Para finalizar, como o senhor acredita que a experiência de professores mercantes possa beneficiar o aprendizado dos alunos? O senhor também aproveitou essa experiência quando aluno do Centro?

[quote_center]“É fundamental o contato com o profissional que passou pela mesma atividade. Que se interessa pelo resultado da formação.”[/quote_center]

PROFESSOR MUNIZ – É fundamental o contato com o profissional que passou pela mesma atividade. Que se interessa pelo resultado da formação. Vejo como de fundamental importância o contato dos alunos com profissionais com experiência na atividade marítima, pois há sempre uma interação positiva. Assim, associam-se componentes teóricos à prática profissional… essa interação é sumamente importante, a prática é multiplicada pelo conhecimento profissional de cada professor.

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Aluno do terceiro ano de Náutica, atualmente é o Vice-Presidente do Jornal Pelicano.