No quinto episódio da séria que explica os grandes acidentes navais da história, vamos acompanhar um naufrágio que deixou um tesouro até hoje não encontrado, uma pedra que levou a Inglaterra a 20 anos de guerra civil, um erro de geografia que custou 86 vidas e uma das piores tempestades da história naval.

HMS Sussex
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Modelo de como seria o HMS Sussex (Fonte: Google Imagens)

Bandeira: Inglaterra

História: Não há como entender a importância desse navio sem antes explicar o que acontecia à época, na Guerra dos Nove Anos. Em busca de travar o avanço da influência francesa no Reno, a Inglaterra mandou 166 navios mercantes escoltados por 48 navios de guerra, além do Sussex, orgulho da Royal Navy, com a missão secreta de subornar um dos aliados da França.

Os ingleses não contavam, porém, com a forte tempestade que os encontraria no Estreito de Gibraltar.

Consequências: Apenas dois, dos cerca de 500 homens a bordo, sobreviveram àquele 1° de março de 1694. O Navio carregava por volta de 10 toneladas de moedas de ouro que, em 2002, valeriam mais de US$ 4 bilhões.

Por que 2002? Porque foi nesse ano que a firma americana Odyssey fechou um contrato com o governo da Inglaterra para realizar a recuperação do que afirmou serem os destroços do navio.

A caça ao tesouro, porém, até hoje não teve fim, pois, devido a impasses com o governo da Espanha, a exploração foi vetada e até hoje não se sabe se nem ao menos se os destroços são ou não pertencentes ao Sussex.

O afundamento desse navio foi um dos motivos que levou à construção de um terceiro deque nos outros que vieram depois, pois foi observado que 80 canhões em apenas dois deques prejudicavam a estabilidade.

Ao todo, nessa tempestade, outros doze navios foram perdidos, juntos às vidas de aproximadamente 1200 homens. Esse foi um dos piores desastres na história da Marinha Inglesa.

White Ship
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Pintura de como seria o White Ship (Fonte: Google Imagens)

Bandeira: Inglaterra

História: Outra perda relevante para a nação inglesa, o White Ship era uma embarcação recém construída comandada por Thomas FitzStephen.

Estimulado pela história de seu pai, Stephen TitzAirard, capitão do navio Moira que levou Guilherme, o Conquistador (William the Conqueror, em inglês, mostrando que não é só nas adaptações dos cinemas que os melhores tradutores se encontram) à sua conquista à Inglaterra em 1066, Thomas solicitou ao descendente do Conquistador, Henrique I, então rei da Inglaterra, a honra de servi-lo da mesma forma que seu progenitor havia feito anos atrás, numa viagem de Barfleur, Normandia, para seu domínio.

Como o rei Guilherme já estava com outra embarcação preparada para partir, recusou a oferta, mas permitiu que outros do seu séquito seguissem com o White, no que acabou se tornando a última viagem de suas vidas.

Maravilhados pelo novo navio (que deixava não só passageiros, mas também comandante e tripulação confiantes), os passageiros ordenaram que FitzStephen “apostasse um racha” com o navio do Rei, que partira antes, apostando que chegariam primeiro à Inglaterra.

Mas, como dizia o poeta, no meio do caminho tinha uma pedra, e o nome dela era Quillebœuf, uma rocha submersa que, em uma noite de 1120, resolveu acabar com a festa.

Consequências: Das cerca de 300 pessoas a bordo, apenas duas sobreviveram. E, como quem mais sofre sempre são os vivos, Inglaterra e Normandia lamentaram desconsoladamente as perdas daquela noite.

Por que dois países inteiros? Porque junto ao séquito de Guilherme I estavam seu herdeiro, Guilherme Adelin (que a essa altura já é de se adivinhar que o nome em inglês fosse William Adelin), bem como seus dois filhos ilegítimos.

Com a morte do herdeiro, Inglaterra e Normandia entraram em uma guerra civil que durou 20 anos.

Outra coisa que sobreviveu à tragédia, claro, foram as histórias.

Conta-se que a colisão na verdade foi motivada por uma briga gerada por excesso de vinho entre a tripulação e os passageiros. Outros dizem que, em meio às mortes, Guilherme Adelin se salvou em um pequeno bote salva-vidas, mas, ao ouvir os gritos desesperados da meia-irmã, voltou para tentar salvá-la e acabou tendo seu barco virado por outros que tentavam se salvar.

A melhor história, na opinião deste escritor, é sem dúvidas aquela que diz que Thomas FitzStephen conseguiu nadar até a superfície após o afundamento, mas olhando para os lados e percebendo o herdeiro do rei havia se afogado, preferiu se deixar levar para o fundo do mar novamente a enfrentar a fúria de Ghilerme I.

Princess Amelia
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Mumbles Point, atualmente, onde ocorreu o acidente. (Fonte: Google Imagens)

Bandeira: Holanda

História: O Princess Amelia foi um navio holandês que partiu de Manhattan com destino a Amsterdã carregando 200 mil libras de pau-brasil, 14 mil peles de castor, um diretor geral da Nova Holanda deposto, um reverendo, dois colonos banidos e mais 103 passageiros e tripulantes.

Infelizmente, ninguém contava com um pequeno erro de geografia cometido pelo comandante Jan Claeden Bol, que confundiu o Canal de Bristol com o Canal da Mancha (que ficam perto um do outro) e entrou no primeiro achando que entrara no segundo.

Consequências: Diferente do Canal da Mancha, que une o mar do Norte ao Atlântico, o Canal de Bristol é na verdade uma baía e, portanto, termina em terra, como descobriu o comandante Bol tardiamente.

Apenas 21 pessoas sobreviveram (dentre elas não estava o comandante), e toda a carga se perdeu quando o navio se partiu ao encalhar em Mumbles Point, País de Gales, no dia 27 de setembro de 1647.

A Grande Tempestade de 1703
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Gravura representando a Grande Tempestade de 1703 (Fonte: Google Imagens)

Quebrando um pouco o padrão de 5 acidentes por matéria, a Grande Tempestade ocupará o espaço dos dois que restariam para representar as cerca de 40 embarcações mercantes e os 13 navios de guerra ingleses que foram destruídos pela força da natureza.

A tempestade chegou pelo sudoeste da Inglaterra em 26 de novembro de 1703 soprando navios centenas de milhas para fora de curso, e arrancando carvalhos, chaminés e, inclusive, o teto da Abadia de Westminster (forçando a rainha Ana, da Grã-Bretanha, a se esconder em um celeiro no Palácio de St. James. A princípio, cerca de mil marinheiros foram dados como mortos em Goodwin Sands, um banco de areia no Canal da Mancha, mas a contagem foi aos poucos aumentando. Estimula-se que a marinha inglesa, a Royal Navy, tenha perdido 1500 homens afogados. Até hoje não se sabe ao certo quantos perderam as vidas no mar.

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Aluno do terceiro ano de Náutica, atualmente é o Vice-Presidente do Jornal Pelicano.