Mais um naufrágio acontece nas águas do mar Mediterrâneo. Desta vez, houve, apenas, 28 sobreviventes, um número alarmante, pois segundo os imigrantes resgatados, o navio carregava de 700 a 950 pessoas e existem, ainda, 400 pessoas desaparecidas. “Confirmados os dados, esta terá sido a maior tragédia ocorrida em águas do Mediterrâneo”, disse a porta-voz da agência da ONU para refugiados (Acnur), na Itália, Carlotta Sami.

De acordo com o testemunho dado à porta-voz, a guarda costeira italiana recebeu um pedido de socorro avisando que o barco em que viajavam os imigrantes, localizado a cerca de 700 milhas do litoral da Líbia, estava em perigo. Com a finalidade de um resgate mais rápido e eficaz, a guarda costeira enviou o navio King Jacob, que navegava perto da região, em direção ao local mencionado.

Sobreviventes do naufrágio afirmaram que a causa deste acidente foi a colisão do navio pesqueiro, que levava os imigrantes , clandestinamente, e o navio mercante português enviado para socorrê-los em alto mar.

Quando o capitão da pequena embarcação avistou o navio português se aproximando, deixou de conduzir sua própria embarcação e se escondeu junto aos imigrantes, causando erro em suas manobras. Os viajantes deslocaram-se para o mesmo lado do barco, que já se encontrava com excesso de peso. Isso provocou a colisão entre os dois navios e consequentemente, o naufrágio do menor.

Após o ocorrido, as embarcações da Itália e de Malta trabalharam na busca por sobreviventes e foi avaliada a morte de ‘algumas centenas’ de pessoas. De acordo com a guarda costeira italiana há 28 sobreviventes da tragédia, todos foram levados ao porto de Valleta, em Malta.

O capitão do navio pesqueiro, de nacionalidade tunisiana, e seu assistente sírio, sobreviveram ao acidente e foram presos pelas autoridades italianas, acusados de pertencerem a uma rede de tráfico de pessoas, homicídio culposo e incentivo à imigração ilegal.

Breve histórico da imigração africana à Europa

Imigrantes africanos são resgatados (Foto: Google Imagens)
Imigrantes africanos são resgatados (Foto: Google Imagens)

Passados 6 séculos do período colonialista, o tráfico de escravos africanos deu vez ao tráfico de pessoas. Aliciados com a promessa de poderem fugir de governos opressores, guerras civis ou miséria, os imigrantes aceitam realizar travessias perigosas de seu país até a Líbia, de onde partem pelo mar rumo à Europa. Uma vez que o navio se aproxima do Velho Continente, este é abandonado em rota de colisão com países para forçar o resgate dos passageiros. Suas principais portas de entrada, são as ilhas de Malta e Lampedusa.

A Marinha Militar italiana recebe pedidos de socorro recorrentes de embarcações superlotadas à deriva. Com números que apenas crescem desde 2006, foram resgatados cerca de 170000 imigrantes africanos apenas no ano de 2014, e estima-se que pelo menos 3500 pessoas tenham morrido nesses primeiros meses de 2015.

Porém o sonho de melhores condições de vida geralmente é frustrado, seja porque estes imigrantes acabam sujeitos a trabalho forçado na agricultura e aliciados pela máfia ou porque se acidentam gravemente na travessia. Para evitar todos esses problemas, no fim de 2013 o governo italiano uniu marinha e aeronáutica para iniciar a Operação “Mare Nostrum” que visava cooperar com os países de origem dos imigrantes, reforçar a vigilância nas fronteiras e aumentar as vagas em abrigos e hospitais para receber os africanos. Contudo, no fim de 2014, a operação “Tritão” substituiu a “Mare Nostrum” – principalmente por motivos financeiros -enfatizando a segurança das fronteiras e deixando de ter Busca e Salvamento como objetivo.

Os principais países do bloco europeu se reuniram após o último naufrágio para tentar encontrar uma solução comum para o problema. O consenso foi de que seria necessário ampliar as ações de busca e resgate no mediterrâneo ao mesmo tempo que auxiliasse-se a estabilização político-econômica dos países do norte africano. Além disso, para a questão de assentamento da massa deimigrantes, alguns países concordaram em dividir a responsabilidade enquanto outros ofereceram suporte técnico e financiamento para de ver longe desse problema.

A situação tem se agravado ao longo dos anos e enquanto não se coloca em prática nenhum dos planos somente tende a piorar. Apesar do perigo da travessia, crise de empregos na Europa e indisponibilidade do socorro com o novo sistema de operação, cada vez mais traficantes conseguem pessoas para se arriscarem nessa triste aventura.

 

Pesquisa e redação:  Al. Thais Dias e Al. Nunes Alves