A partir dessa semana, o Jornal Pelicano vai inaugurar o ano de 2015 com sua mais nova série: Acidentes Navais. Explorando o universo marítimo, vamos desvendar semanalmente alguns dos principais desastres que acometeram nossa história pelos domínios de Poseidon:

Demas Victory

Bandeira: Dubai

História: Construído em 1979, o navio de apoio operado pela árabe Midgulf Offshore Ship Chartering LLC. encontrava-se em meio a uma tempestade, em 30 de junho de 2009, se dirigindo a Doha, capital do Qatar, quando teve sua autorização para entrada no porto negada devido ao mau tempo. O comandante foi instruído a permanecer num ancoradouro exterior até o clima melhorar, quando, por volta das 6:30h da manhã, o navio foi atingido por ondas fortes e vendavais, que o emborcaram e, em três minutos, provocaram seu naufrágio.

Consequências: Das 35 pessoas a bordo, apenas cinco foram resgatadas (todos membros da tripulação que estavam de serviço na hora), e somente seis corpos foram recuperados a princípio. Em 6 de Julho do mesmo ano, seis dias depois do acidente, os 19 corpos restantes foram encontrados após uma operação de três dias que resultou na retirada do navio do fundo do mar.

Embarcados no navio estavam nove membros da tripulação, 24 empregados da HBK Power Cleaning e dois fornecedores que trabalhavam para uma companhia contratada pela HBK.

Fantome

Bandeira: Estados Unidos

História: Em uma verdadeira perseguição, a escuna fez de tudo para livrar-se do obstinado furacão Mitch, um dos mais fortes que já assolaram as águas do Atlântico.

Tudo começou quando o navio, construído originalmente como um iate em 1927, preparava-se para sair de Omoa, em Honduras, no dia 25 de Outubro de 1998, levando noventa e sete passageiros em um cruzeiro de 6 dias para Belize e sua Barreira de Coral, a segunda maior do mundo. Ao receber a previsão do tempo informando sobre o furacão Mitch, que mesmo a centenas de milhas de distância já provocava chuvas torrenciais, o comandante Guyan March, 32, informou a seus passageiros que desviaria sua rota, dirigindo-se a leste rumo às Ilhas da Baía, a fim de escapar do mortal perigo que ia para o nordeste, em direção à Jamaica.

À meia noite, a Windjammer Barefoot Cruises, companhia responsável pelo navio, cancelou o cruzeiro e orientou o comandante a desembarcar os passageiros e toda a tripulação não-essencial na Cidade de Belize. Obedecendo às ordens, todos foram deixados em segurança em terra firme, enquanto os poucos que restaram a bordo receberam a tarefa de tirar a escuna da rota do furacão, agora intensificado e rumando a Belize. Encurralado a oeste e a sul por terra, e a leste pelo ciclone, a única saída para o Fantome foi ir para o norte, passando por Cancun e saindo da área do Mar do Caribe.

Quando ultrapassou a Barreira de Coral, ainda em Belize, os ventos se intensificaram, forçando o navio a mudar sua estratégia mais uma vez, agora indo em direção sudeste para esconder-se atrás da ilha Roatán. O comandante chegou em seu destino às 05:00 horas da manhã do dia 27 e iniciou os procedimentos de mau tempo. Oito horas depois, Mitch mudou de direção, com seu centro apontando agora para sudoeste, justamente para Roatán.

Mais uma vez sem ter para onde correr, a única possibilidade ainda existente era atravessar as 24 milhas de corais a leste, entre Guanaja e a costa de Honduras, em meio a ondas de 40 pés e ventos de 100 nós.

Não contente com apenas causar balanços de 40 graus no navio, às 16:00h Mitch mudou sua direção pela última vez, agora para o sul, alinhando-se perfeitamente com o Fantome, distante apenas 45 milhas de sua presa.

Meia hora depois, as comunicações com o navio foram perdidas e, enquanto escurecia, a tempestade que acompanhava o furacão mudou também sua direção, indo para sudeste, em linha direta com a rota do veleiro.

Consequências: Em 1º de Outubro, o primeiro destroço do Fantome foi encontrado: um de seus coletes salva-vidas na costa de Guanaja. Após sete dias de busca, mais sete coletes e duas balsas com o nome do navio foram encontrados nas proximidades da ilha. Dos 31 tripulantes, nenhum sobreviveu. Ironicamente, o furacão nem sequer chegou a aproximar-se de Belize. 

Costa Concordia

Bandeira: Iália

História: A tragédia do Costa Concordia ainda é recente na memória. Todos acompanharam o desfecho do navio que, na noite de 13 de Janeiro de 2012, colidiu com uma rocha no mar Tirreno, entre a Isola del Giglio e a Itália, 100 quilômetros a noroeste de Roma, abrindo um talho de 50 metros no casco a bombordo do navio.

Com perda da capacidade de gerar eletricidade devido à inundação da casa de máquinas, o cruzeiro começou a inclinar e, numa tentativa de alcançar o porto de Gilgio, encalhou. A inclinação chegou a 80 graus.

Consequências: Apesar das leis internacionais determinarem que o desembarque em casos de emergência seja executado em até 30 minutos, nesse caso o procedimento tomou mais de seis horas, e nem todos conseguiram fazê-lo. Trinta e duas pessoas faleceram no acidente, sendo o último corpo resgatado apenas em três de novembro do ano passado, graças à operação que o reergueu em 17 de Setembro de 2014.

Com medo de um iminente desastre ambiental devido ao combustível e outras substâncias nocivas presentes no navio quando do seu encalhe, um rápido procedimento teve início para esvaziamento dos tanques, garantido a segurança da fauna e flora marítimas local. Os restos do navio foram levados para que fossem sucateados.

O comandante Francesco Schettino foi considerado culpado após assumir que havia feito a manobra que levou o navio ao seu fim apenas para impressionar companheiros e saudar o ex-capitão da Costa Cruzeiros (companhia proprietária da embarcação) e abandonar o Costa Concordia antes de todos os passageiros serem evacuados.

SS William B. Davock

Bandeira: Estados Unidos

História: Diferente dos outros navios que foram mostrados até agora, o Davock era um cargueiro de água doce que operava na região dos Grandes Lagos em 1940. Construído 1907 para transportar carvão, minério de ferro e outros, ele passou por uma reforma entre os anos 1922 e 1923, sofrendo uma reconstrução e algumas melhorias, voltando a operar agora apenas no transporte do carvão e do minério de ferro para siderúrgicas pela The Interlake Steamship Co.

No dia 11 de Novembro de 1940, em sua última viagem, o cargueiro encarou a pior tempestade que até então havia passado pelos grandes lagos, com ventos de 75 mph, ondas de 20 pés e chuva que logo virou neve.

Consequências: O navio foi encontrado em 1972 perto de Michigan, a 60 metros de profundidade. Ao todo, a tempestade levou consigo dois navios, o SS William B. Davock, com sua tripulação de 32 pessoas (fontes divergem, afirmando serem 33), e o SS Anna C. Minch, com 24. Outra vítima da tempestade, o cargueiro Novadoc encalhou causando a morte de dois membros da tripulação. Três pescadores locais foram reconhecidos pelo governo canadense por sua bravura ao resgatarem 17 membros do Novadoc.

Uean Te Raoi IIuean

Bandeira: Kiribati

História: Numa tentativa de resgatar um membro a tripulação que havia sido arrastado pelo mar no caminho entre Tarawa, no Kiribati, e a ilha Maiana, o fez uma manobra para dar meia volta que acabou emborcando a balsa.

Consequências: Dos 54 passageiros e tripulantes a bordo, apenas 19 se salvaram. Mesmo com o auxílio de um C130 oferecido pela Royal New Zealand Air Force, foram confirmados 19 falecimentos ainda há 16 desaparecidos.

 

A cada semana, novas histórias serão trazidas para o site, explicando acidentes do passado e do presente!

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Aluno do terceiro ano de Náutica, atualmente é o Vice-Presidente do Jornal Pelicano.