Camões imortalizou em sua obra “Os Lusíadas” a figura do Velho do Restelo, aquele senhor que, na partida dos corajosos portugueses rumo ao desconhecido, maldiz as motivações que os levaram a tão impetuosa empreitada, certo de que a sombra da morte, do fracasso e do esquecimento vagava pelos conveses e cobertas das naus e caravelas. Para o pessimista senhor, o mar era domínio de míticas criaturas e colossais tormentas, de mistérios perigosos e de dias e noites de medo e solidão, e não abençoaria a almas, mesmo as mais destemidas e nobres, com o retorno às famílias deixadas em terra.

Da mesma forma que o Velho, muitas vezes nossa própria mente nos castiga com certezas de fracassos e vergonhas. Quem nunca ouviu aquela fria e triste voz no fundo da cabeça dizendo: “Essa prova vai estar difícil, é melhor nem fazer…”, ou “Não adianta estudar, na hora vai dar branco e você vai esquecer tudo…”, além de vários outros maus presságios?

Candidatos, em pouco tempo o sonhado dia do concurso de admissão à EFOMM chegará, e trará consigo, se a própria espera por este já não traz, essas mesmas inseguranças, essa mesma voz, que tantas vezes já os assolou. O Velho do Restelo, personificação do pessimismo, mais uma vez estará no cais, gritando augúrios para que os senhores e senhoras desistam do desafio a que se propuseram quando se inscreveram no concurso, para que abandonem o navio e fiquem na segurança da terra firme, pensando: “Não estou pronto ainda”, “Talvez mais um ano de estudo seja melhor”, ou até desistindo de uma vez da carreira mercante.

Não se rendam à tentação de adiar. Não se iludam com o tamanho da tempestade que se vê no horizonte longínquo. A determinação para superar esses obstáculos é a chave que os levará aos seus objetivos. Lembrem-se de tudo o que já passaram no decorrer do ano, das noites mal dormidas, dos finais de semana sacrificados, dos amigos e namoradas/os que ficaram em segundo plano. Lembrem-se daqueles que os apoiaram e ainda apoiam, dos rostos que, mesmo tristes por terem sido deixados um pouco de lado nesse período de estudos, ainda lhes ofereceram sorrisos calorosos e palavras de encorajamento. Lembrem-se que, mesmo sentados dentro de uma sala cheia de desconhecidos, essas pessoas ainda estão consigo, em coração, mente e oração. Extraiam delas a força que lhe faltar, nenhuma a negará a vocês. Mantenha a calma, mesmo apesar da batida acelerada dentro do peito, pois é ela que impede que o tempo escorra entre os dedos. E, acima de tudo, lembrem-se de quem vocês são. Cada um de vocês tem uma história única, com seus próprios méritos e conquistas.

A prova que se aproxima é o ápice de um período de preparações, mas não o fim. Infelizmente, apenas alguns poucos serão selecionados para as próximas fases, e essa restrição é o que alimenta os medos e inseguranças, mas não se deixem abalar, não é uma nota o que pode dizer o real valor que cada um dos senhores possui.

Muitos de nós, que hoje estamos vestindo o bege, fizemos mais de uma vez essa prova, assim como muitos dos senhores. A determinação de crer em si, mesmo quando todos duvidam, de forçar coração, nervos, músculo, tudo, a dar o melhor de si sempre, é, como disse o poeta e escritor Rudyard Kipling, o que nos torna homens e mulheres, por isso, mesmo diante do fracasso, não devemos esmorecer.

A equipe do Jornal Pelicano, bem como todos os alunos da EFOMM, desejam a todos os candidatos, mais do que sorte, a possibilidade de darem o melhor de si e a certeza de voltar pra casa com a alma leve de quem fez o que podia fazer, nem mais, nem menos. Como recompensa, mais do que aprovação, lhes desejamos felicidade e tranquilidade de espírito. Que bons ventos os acompanhem.

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Aluno do terceiro ano de Náutica, atualmente é o Vice-Presidente do Jornal Pelicano.