A “poluição sonora” no fundo dos mares vem causando a cada dia mais barulho em terra firme. Estudos mais recentes estão sendo direcionados ao impacto da atividade offshore na vida de mamíferos marinhos, especialmente as baleias. Nesse contexto, desponta uma nova tecnologia que se propõe a amortecer os sons provocados pelas operações, mas o desafio ainda é enorme – do tamanho de uma bolha.

A imagem acima foi produzida em um teste feito por pesquisadores da Universidade do Texas e ilustra a possível aparência de uma cortina de bolhas subaquática. A incomum, porém promissora tecnologia está sendo desenvolvida por diversas companhias de exploração petrolífera e energia eólica, através da adaptação de uma técnica bem sucedida de construções de pontes sobre as águas. Para compreendê-la, é necessário perceber o que é, essencialmente, aquilo que chamamos de som.

O som é a energia em forma de ondas. Pulsos sonoros de grande sensibilidade podem ser produzidos no fundo dos mares por diversos animais marinhos para permitir sua comunicação, alimentação, acasalamento e para manter seus grupos unidos. Porém, sons também surgem quando, por exemplo, os pilares de uma ponte são cravados sob as águas. Foi assim que em 2003 e 2004 o reajuste da San Francisco-Oakland Bay Bridge forneceu evidências irrefutáveis de que os sons produzidos pela atividade do homem no meio submarino podiam afetar severamente o comportamento – e a sobrevivência – de seres marinhos.

O Departamento de Transporte da Califórnia (Caltrans) já havia alertado sobre o problema que poderia advir de ondas de pressão curtas e poderosas criadas pelo impacto dos martelos no processo de fixação dos pilares da ponte. Peixes começaram a aparecer mortos na superfície próxima à área já num teste inicial. Bud Abbott, biólogo marinho de Oakland que já antevira a consequência, coletou alguns peixes para análise. A conclusão: a onda de pressão que atingira os peixes comprimiu sua bexiga natatória, que se expandiu rapidamente outra vez, estourou e danificou seus rins.

A descoberta alarmante do problema tornou-se também o princípio que daria origem a uma possível solução.

Quando uma onda de pressão se choca com uma bolha, ela comprimirá a bolha, que se expandirá novamente, perdendo energia“, explica Abbott. Para ele, não há dúvidas de que, em contrapartida, a bolha muda o formato da onda, fazendo com que ela também perca energia.

 Sendo assim, o som, que viaja na água mais rápido que no ar, se deslocaria com menor velocidade à medida que ocorressem choques com bolhas de ar. O teste foi novamente realizado em Bay Bridge, com o detalhe de que uma parede de bolhas foi posicionada contra cada pilar impulsionado na água. Surpreendentemente, a mortalidade dos peixes nas proximidades foi reduzida, não ultrapassando uma área de 69 metros (226 pés) dos pilares.

A mesma ideia pode ser utilizada em plataformas de exploração de petróleo offshore. Como afirma Michael Stocker, diretor executivo da Ocean Conservations Research, no caso de plataformas a perfuração não é tão agressiva quanto os thrusters. “Thrusters estabilizam a plataforma enquanto elas perfuram e exploram. É um ruído contínuo”, ele diz.

O barulho no fundo dor mares tem se tornado cada vez maior. Para fazer uma comparação, uma conversa normal tem aproximadamente 60 decibéis, sendo que sons acima de 130 decibéis já são dolorosos ao ouvido humano. Mas o som propagado na água é diferente. Um som de 100 decibéis na superfície, que normalmente nos causaria um ligeiro desconforto, seria equivalente a 162 decibéis se pudesse ser percebido por nós debaixo d’água. Todo esse barulho interfere severamente na vida de animais como as baleias, pois o excesso de sons as confunde e faz com que mudem seu comportamento natural. As bolhas podem ser uma saída para reduzir o impacto de sons subaquáticos, porém seu desenvolvimento enfrenta desafios no que diz respeito ao melhor desenho da cortina para superar aspectos do ambiente, dentre eles as marés e correntes que podem deslocá-la da posição planejada.

Enquanto as bolhas não estouram de vez, outros pesquisadores buscam soluções inovadoras para a questão da poluição sonora submarina. Como toda tecnologia, a cortina de bolhas e métodos menos agressivos de exploração submersa podem ser aperfeiçoados. Mas o que ainda precisa crescer é a percepção pública de que este é realmente um problema, a fim de mobilizar empresas e órgãos responsáveis para tentar resolvê-lo.

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Segundo Oficial de Máquinas e Membra Honorária do Jornal Pelicano. Foi aluna da EFOMM de 2013 a 2015, Comandante de Companhia, Adaptadora-aluna, Atleta da Equipe de Basquete, Monitora do Grêmio de Máquinas, Escritora e Presidente do Jornal Pelicano.